Uma suspeita de
imensidão aprecia os deslizes da palavra refugiada na palavra. Ponto de fuga em
subterfúgios de especulação, ao exibir renúncias de ser previsível, amplia o
mundo das possibilidades.
A admissão compreensiva
desses desvãos se oferece no acolhimento de um talvez. Uma de suas
características é o descompromisso em sustentar verdades a qualquer preço. Seu
estado de espírito sobressaltado qualifica deslocamentos pela arquitetura
subjetiva de um mundo fatiado. Aqui o vislumbre repentino das pequenas coisas
permite o acesso as zonas de exclusão.
Por esses episódios a
perder de vista, um teor extemporâneo pode desconstruir as fronteiras
conhecidas. Seu saber ameaça os fundamentos conhecidos daquilo que se tinha
definitivo. Nesse viés de aparência deslocada anuncia novos horizontes,
esparrama indícios de originalidade para se fazer ciência.
O discurso imprevisível
onde ela se esboça, procura inseri-la num contexto de notícia compartilhável.
Mesmo assim, prefere um caráter marginal, improvável vestígio de escritura a
reinventar interseções.
Essas lógicas da
raridade subjetiva se rascunham em tempo próprio. Com elas, a súbita percepção
de algo desconsiderado pode traduzir o novo se constituindo.
Os eventos
extraordinários, incompreendidos, inaceitáveis, quando não tratados a golpes
pela medicina psiquiátrica, podem anunciar um viés inesperado, essencial ao
viver melhor. Por outro lado, em alguns casos, a drogaria do hospício incita
aquilo que busca combater.
Um instante fugaz onde
a percepção é capaz de entrever uma perspectiva inacabada para si mesma.
Realidades fugidias em um mundo de expressões desconhecidas. Entremeios de um
fenômeno estranho, fica a sensação de janela entreaberta, por onde se move a
irrealidade em busca de por vir. Existem sinais de alma nova diante das
promessas de ser aquilo que não é.
*Hélio Strassburger in "A palavra fora de si". Ed. Multifoco/RJ. 2017.
Filósofo Clínico não
filiado a Anfic
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