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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Linguagem viva, como acentuam os linguistas, é aquela na qual você ainda pode cometer erros. Linguagem perfeita é a que está morta. Nem se modifica, nem hesita. Por sorte, estas eram regras muito frágeis, foram esquecidas imediatamente. Nenhum manual de gramática cinematográfica - estética, prática ou comercial - sobrevive a um período superior a dez anos. Tudo se desmonta constantemente e volta a se reagrupar"

"(...) por ter muito para ver, nossos olhos, com frequência, não conseguem ver mais coisa alguma"

"Mas uma linguagem em permanente autodescoberta, uma linguagem que está sempre criando formas e se enriquecendo, obviamente não pode apenas reciclar velhos ingredientes. Logo degeneraria em palavras ocas. É preciso inovar, ousar - e, de vez em quando, fracassar - para narrar e expor"

"De fato, todo o filme parece dizer que não há diferença, que a vida imaginária é tão real quanto a outra, e que a vida que tomamos por real pode a qualquer momento se tornar inverossímil, absurda, anormal, perversa, levada a extremos por nossos desejos ocultos"

"(...) O indefinível era melhor do que o específico, ainda que exótico. Buñuel, além disso, sonhava em introduzir sorrateiramente algumas informações falsas em todos os seus filmes, como que para minar e desviar ligeiramente o rumo da história e da geografia; a verdade fiel o aborrecia tanto quanto um espartilho apertado"

"Coincidências, eventos improváveis - a verdade não é sempre convincente. Sempre soubemos disso. O cinema, que tão frequentemente se aventura pelo irreal, constantemente renuncia a uma realidade que considera difícil demais de ser engolida"  

"Também sabemos que de início praticamente todas as obras-primas foram rejeitadas e vilipendiadas. É quase uma regra. Toda obra realmente forte tem que incomodar. Na verdade, isso é um sinal da sua força"

*Jean-Claude Carrière in "A linguagem secreta do cinema". Ed. Nova Fronteira/RJ. 2006.

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