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Texto e contexto*


                                      
                 
Ao se pensar sobre a essência de uma escritura, logo surgem especulações sobre suas fontes de inspiração. Quais os subsídios utilizados pela autoria para transgredir ideias na forma escrita. Num esboço assim, a cada página é possível entrever um novo viés de novidade. Tendo como ponto de partida uma vivência singular, algo mais se diz em vocabulário próprio.   

Um texto narrativo indica suas origens através das palavras escolhidas para se contar. O discurso existencial se descreve ao preencher suas lacunas. Ao conhecer a luz do dia, essas ideias e sensações podem se emancipar de um jeito inédito.  

É possível se reinventar na convivência com uma obra. Sua retórica, ao integrar texto e contexto apresenta rotas, até então desmerecidas a singularidade. As idas e vindas intelectivas do leitor ao personagem e do personagem ao leitor, agregam saber, sabor e cor. Ao concluir-se uma redação ou uma leitura, pela contínua movimentação de seu meio, suas páginas reivindicam novos preenchimentos. Esse conteúdo, por seu inacabamento, favorece uma reapresentação do mundo.

Um sujeito assim constituído, ao reler determinadas páginas, pode avistar um estrangeiro em busca de tradução. A apreensão da escritura pela leitura agrega outros territórios, ampliando o conceito de realidade.  

Em cada pessoa existe uma poética que aguarda seu momento de renascer. Ao resgatar sua circunstância de vida, é possível reagendar sua fonte de utopias. Um desses lugares onde o sonho e a vida lá fora se encontram para transcender impossibilidades.    
      
Nesse sentido, a renovação da linguagem em cada sujeito denuncia um processo único. Com essa lógica de travessia a inspiração, quando não sufocada, aprecia traduzir seu dicionário de possíveis. Para acessar a situação pessoal de onde partiu, o entendimento de uma obra pode não bastar, é necessário compreendê-la em reciprocidade. Seus manuscritos reivindicam uma escuta visionária de seu dialeto.     

A escrita e a leitura, enquanto ritual de autodescoberta, concede aos envolvidos uma emancipação dos seus horizontes existenciais. A literatura é um lugar para se integrar realidade e ficção, com isso convida a mergulhar numa pluralidade desconhecida de roteiros. Os relatos da singularidade apreciam a cumplicidade do leitor para reescrever sua história, concedendo um significado excepcional a este contar. Talvez ler e escrever rime com não morrer.    

*Hélio Strassburger
Filósofo Clínico não alinhado

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