Relação continuada que sobrevoa ideias complexas e aterrissa em sensações, a nossa e a dos livros. Quem já não capturou ou se deixou capturar pelas emoções, até dos jargões neles contidos.
Galeano, no enfrentar
silêncios para recuperar o não dito, é danado. Ele nos faz reverberar em outro
plano, flexibiliza o fadado.
Momento do devaneio
poético, diria Bachelard. De tanto concentrar para ordenar imagens - como
plantas, necessitam de terra e de céu - o imagético enlaça o simbólico e
encontra novos imaginários. Jung, Campbell... O escarcéu.
Utopia... Por intermédio
dos livros exercitamos maneira nata, em seus mais diversos gêneros, de enxergar
a nós mesmos e até manejar circunstância que mata. Distopia...
As pessoas no Pessoa
acordam outras em nós. Qual a sintonia... Termos agendados no intelecto
partejando ideias... Ressignifica e marca autogenia.
Navegar Camões nos
arrebata. Ora pela tormenta que clama por sonhos. Ora pela calmaria que
suspende a vida que a nós se ata.
Clarice é seca pancada
que desaloja, nos desperta do torpor. O
corriqueiro, banhado pela espontânea poesia, amplia olhares e transborda em
novos horizontes a dor.
Vargas Llosa talvez
questionasse se teria ou não valia. Se há alguém que fala, a fala vem de algum
lugar. Do pensamento a seu modo estruturado, não se dá à revelia.
Sartre conjura, enlaça o
insano em outra envergadura. Desatino humano que encontra coisas antes mesmo
das palavras. Confere existência à poesia na loucura.
Com persistência de
andarilho, o livro ao leitor ementa. Em recíproca inversiva aparece como
sujeito oculto por ruídos travestidos. E durma com essa contenta.
Representação em
essência. Que poder é esse que vem com a leitura... Se em sua função não
conclui, só desencadeia, a literatura... Em meio a épicos flagelos, ascende em
resistência.
O inventado humano... Lê
com o que tem, com o que é e como pode. Contida a narrativa ou derramada em
prosa, Shakespeare o faz brotar sublime... Na plenitude, onde sagrado encontra
profano.
Nietzsche arremataria...
Humano, demasiado humano... Mistério posto, mesmo que não revelado. Indício não
concluso de aí radicar sua supremacia... Não seria super, o homem alado.
Físicos ou não, o que não
é substituído é a experiência que proporcionam ao serem lidos. Autor e leitor
mesclam mundos e da dança compartilhada novos passos cadenciam em compasso.
Devassam paixões... E ainda mais vivos... Os livros... Rompem grilhões.
*Ana Rita de Calazans
Perine
Filósofa Clínica,
Pesquisadora, Educadora, Mobilizadora Social e Empresarial
Canela/RS
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