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Quanto tempo leva uma terapia?*

O tempo de um processo terapêutico pode ser estimado. No entanto, se levarmos em conta o modo como se dá o tempo subjetivo dos processos de mudança, adaptação, superação, costume etc. de cada pessoa, as estimativas não passam de... meras estimativas. Não há exatidão quando se trata dos complexos processos constituintes do universo de cada alma humana.

Além do funcionamento interno do indivíduo, também devemos levar em conta outros âmbitos. As relações internas e externas, os contextos passados e presentes, as projeções, os sonhos, as emoções, os valores, os modos de aprender e esquecer, os direcionamentos dos olhares e das memórias etc.

Algumas pessoas chegam ao consultório com demandas imediatas e últimas relativa ou aparentemente simples. No entanto, com estruturas com pouca abertura para modificações, podem apresentar resistências difíceis de transpor. Um exercício de trabalho e paciência para terapeuta e partilhante.

Outras podem ter alguma facilidade para mudança. Mas, tal facilidade também pode se mostrar como inconstância. Daí ser necessário o tempo de enraizamento dos novos pensamentos ou comportamentos a fim de dificultar modificações que rumem para o retorno ou a construção de algo que leve a um mal-estar subjetivo.

Há ainda quem necessite de intervenções mais enfáticas; enquanto outros somente lidam amigavelmente com procedimentos clínicos sutis, praticamente imperceptíveis, quase dando a impressão do terapeuta nada ter feito e que as mudanças se dão única e exclusivamente por iniciativa da pessoa.

O tempo objetivo do relógio, dos calendários, do sol ou da lua podem exercer uma ação direta na estrutura de pensamento de algumas pessoas. Para outras, esse tempo não possui peso algum em seus movimentos existenciais. Como saber? Investigando cada caso, cada pessoa. Os casos são tão variados quanto o número de seres humanos no mundo.

Por isso, uma terapia leva o tempo necessário. Uma necessidade inteiramente subjetiva. Para algumas pessoas, a primeira é, ao mesmo tempo, a última conversa que o partilhante terá com o filósofo clínico, pois serviu para clarear suas questões e resolvê-las. Para outras, é somente o início de uma jornada sem tempo, sem pressa, sem intenção de terminar.

Até mesmo a qualidade de vida que a terapia visa proporcionar, deve ser personalizada. Para algumas pessoas, o tempo antes da terapia é o único que existe. A pessoa passará toda sua vida pretendendo ir à terapia sem nunca efetivar essa intenção, pois esse foi o movimento necessário para que essa pessoa, talvez na impossibilidade estrutural de lidar com suas questões em um consultório, ficará bem em jamais dialogar a respeito delas com um terapeuta.

*Prof. Dr. Miguel Angelo Caruzo 

Filósofo. Filósofo Clínico. Escritor. Professor titular em Chapecó/SC e Porto Alegre/RS.

Teresópolis/RJ

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