Considero-me um privilegiado por conhecer todas as etapas da filosofia clínica. Cada uma das experiências complementa meu aprofundamento no aprendizado.
A primeira etapa ocorre antes
mesmo de conhecer a filosofia clínica. Trata-se da formação em filosofia: a
graduação. Etapa em que conhecemos um pouco de toda tradição filosófica de dois
milênios e meio.
A etapa seguinte é a formação
teórica em filosofia clínica. Refiro-me à especialização (reconhecida ou não
pelo MEC). Nesse período, aprendemos os conteúdos e as etapas do método dessa
abordagem terapêutica fundamentada na filosofia.
A seguir, há o pré-estágio ou a
clínica didática. Etapa na qual fazemos nossa clínica pessoal, somos atendidos
e cuidamos de nossa qualidade de vida como um todo. Isso costuma ajudar
bastante quando se trabalha posteriormente como terapeuta.
Após o pré-estágio, seguimos para
o estágio supervisionado. Passamos a atender pessoas segundo o método da
filosofia clínica, gravando as sessões, transcrevendo e identificando os
elementos do método. Tudo isso, supervisionados por um filósofo clínico
experiente.
Além dessas etapas, também pude
(e ainda o faço) lecionar, ensinar filosofia clínica para outras pessoas em
todas essas etapas: lecionando na especialização, atendendo a pré-estágios e
supervisionando estágios. Se a prática da filosofia clínica equivale a refazer
todo o curso, ensinar é reaprender sob novas perspectivas.
Há uma etapa paralela: a produção
intelectual. Tive a oportunidade de escrever capítulos em três livros sobre o
tema – um deles, publicado no México – antes de ver lançado meu próprio livro
autoral sobre a filosofia clínica (curiosamente, escrito antes das
contribuições mencionadas): refiro-me à Introdução à Filosofia Clínica. Antes
disso, nos últimos dez anos, escrevi alguns textos sobre o tema em blogues.
A produção escrita foi, sem
dúvida, um aprendizado a mais. Apresentar a filosofia clínica em um texto
acessível requer conhecimento do conteúdo que se pretende expor. Pois, não é
uma mera repetição. Trata-se da reelaboração do conteúdo aprendido para fins
didáticos.
Complementando, continuo
(re)lendo livros e artigos, ouvindo áudios, assistindo a vídeos e, quando é
possível, assistindo a aulas do professor que me formou e de outros colegas.
Sempre há algo novo a aprender e a aprofundar.
Por fim, não menos importante,
não cesso de fazer os atendimentos desde quando voltei a me dedicar à filosofia
clínica. É, sem dúvida, um espaço privilegiado para uma postura de eterno
aprendiz. É quando as certezas tornam-se, no máximo, hipóteses e aprendemos,
por meio da escuta atenta, o quão complexo e vasto é o mundo de quem atendemos.
*Prof. Dr. Miguel Angelo Caruzo
Filósofo. Escritor. Filósofo
Clínico. Professor titular em Santa Catarina e Rio grande do Sul. Autor de “Introdução
à Filosofia Clínica”. Editora Vozes/Petrópolis/RJ. 2021.
Teresópolis/RJ
Comentários
Postar um comentário