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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) o verdadeiro leitor é jovem, por essência. É um indivíduo de grande curiosidade, cheio de ideias, expansivo e de espírito aberto, para quem a leitura se afigura mais um vigoroso exercício ao ar livre do que um estudo em local protegido; galga a estrada íngreme, sobe a alturas sempre maiores das montanhas, até que a atmosfera se faça tão rarefeita que se torna quase irrespirável; para ele, não é de maneira nenhuma uma atividade sedentária" "Tudo o que possamos ter aprendido com a leitura dos clássicos agora nos é necessário para julgar a obra de nossos contemporâneos, pois, enquanto houver vida neles, estarão lançando suas redes em algum abismo desconhecido para capturar novas formas, e teremos de lançar nossa imaginação em seu encalço, se quisermos aceitar e entender os singulares presentes que nos trazem de volta (...)" "Sentimos a tentação de atribuir aos mortos as qualidades que não encontramos em nós (...)" "É de fato, uma

História(s) humanas 2*

“O que é explicado como ideia e não como definição.”                       Werner Jaeger Coisas do mundo existem, digo, as mais preciosas e estranhas estão aqui no Brasil. Vivemos no país digno de ficção, um prato cheio para a literatura. Alguém escreveu que este país está virando um hospício. Estou sentindo em mim pequenas transformações no humor, na paciência em lidar com os objetos, com imaginário e os mais palpáveis tipos de estranhamentos. Como ligar o mundo concreto, aquela construção da consciência de Herder, em que o acolhimento histórico ligava a vida ao futuro? Estamos no tempo das versões e superações dos apóstolos da decadência dos valores modernos, a história já não é um caminho inexorável, o retorno é uma versão idealizada do que já foi o concreto estar no mundo. O mundo parece estar novamente no dilema entre o domínio das coisas, de um lado, no obscurantismo do que foi dado, e o retorno cego ao princípio das leis monoteístas sobre a vida. O que é de esp

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Que espécie de pessoas produz essa revolução permanente ? Para que as pessoas sobrevivam na sociedade moderna, qualquer que seja a sua classe, suas personalidades necessitam assumir a fluidez e a forma aberta dessa sociedade" "Precisam aprender a não lamentar com muita nostalgia as 'relações fixas, imobilizadas' de um passado real ou de fantasia, mas a se deliciar na mobilidade, a se empenhar na renovação, a olhar sempre na direção de futuros desenvolvimentos em suas condições de vida e em suas relações com outros seres humanos" "Em nossos dias, tudo parece estar impregnado do seu contrário" "Todas as nossas invenções e progressos parecem dotar de vida intelectual as forças materiais, estupidificando a vida humana no nível da força material" "Se encaramos o modernismo como um empreendimento cujo objetivo é fazer que nos sintamos em casa num mundo constantemente em mudança, nos damos conta de que nenhuma modalida

Super-heróis do cotidiano*

Se você só vê gente viva e já acha que está de bom tamanho; se o mais próximo que chegou de um gnomo ou fada foi através de desenhos animados; e se até considera viagem astral uma ideia bem bolada, mas prefere apreciá-la em relatos alheios, esta crônica é pra você. Pra você que, assim como eu, também é uma pessoa comum. Ou seja: nunca viu espírito, não tem o dom da clarividência, não faz ideia de como se hipnotiza alguém e também não consegue ir muito além do ascendente nas interpretações de mapa astral. Somos pessoas comuns, com nossas limitações, mas também com potencialidades e é sobre elas que quero falar. Muito embora não consigamos acessar esses níveis mais sutis da existência, nós, seres humanos comuns, também temos poderes. Super poderes, pra falar a verdade! Cito quatro, primordialmente: autoconhecimento, autogoverno, auto-superação e auto-esquecimento. Autoconhecimento é olhar com honestidade e franqueza pra si mesmo, analisando virtudes e qualidades, mas também f

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) uma intuição não se prova, se vivencia" "O tempo é uma realidade encerrada no instante e suspensa entre dois nadas" "Requer-se o novo para que o pensamento intervenha, requer-se o novo para que a consciência se afirme e a vida progrida. Ora, em princípio a novidade é, evidentemente, sempre instantânea" "Mas a função do filósofo não será a de deformar o sentido das palavras o suficiente para extrair o abstrato do concreto, para permitir ao pensamento evadir-se das coisas ?" "(...) Para as concepções estatísticas do tempo, o intervalo entre dois instantes é apenas um intervalo de probabilidade; quanto mais seu nada se alonga, maior é a chance de que um instante venha terminá-lo" "Mas, por firmes que sejamos, jamais nos conservamos inteiros, porque nunca fomos conscientes de todo o nosso ser" "Como realidade, só existe uma: o instante. Duração, hábito e progresso são apenas agrupamentos de

Poeta embriagado*

Está alegre o poeta Bobamente feliz Por tudo E por nada Feito arlequim No palco da vida Que ele mesmo construiu.! Não ria, pequena Está bêbado o poeta Ébrio de um amor ferido Do beijo molhado Da taça do amor Está embriagado, o poeta Pela visão de um oásis Inebriado dos perfumes Das distantes pálidas estrelas Cambaleia o poeta Entre triste e feliz Vertiginoso em linhas curvas Em passos sono-lentos... Acalentado apenas pelo luar. Inventa sua vida miúda E imagina seus amores Engana-se a si mesmo E bebe da sede De uma ausência Jamais saciada.! *José Mayer Filósofo. Poeta. Livreiro. Especialista em Filosofia Clínica. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) Basta eu ser como sou e não querer nem poder modificar-me, indolente, rebelde e dado a coisas nas quais ninguém mais pensa" "Não raras vezes também pensava: 'Por que sou tão esquisito, em conflito com tudo, em desavença com os professores, e estranho entre os outros meninos ? Olhe os alunos, os bons e os de sólida mediocridade'" "Ele seguia o caminho que devia seguir, um pouco negligente e sem ritmo, assobiando, com a cabeça inclinada para o lado, olhando para a distância, e, quando errava o caminho, isto acontecia porque para alguns seres não existem caminhos certos" "(...) Quando lhe perguntavam o que pensava ser, dava informações contraditórias, pois que costumava dizer que trazia em si possibilidades para mil existências"  "A literatura não é profissão alguma, e sim uma maldição (...) Quando é que começa a se fazer sentir esta maldição ? Cedo, terrivelmente cedo (...) Você começa a se sentir marcada, n

Sonhadores*

     “Como se pudéssemos erguer um só alento        ante o término do alento.”        Paul Auster (poema No fim do Verão) Gosto de brincar com as palavras, como se meu pensamento voasse da terra ao mais distante lugar, que nem o sentimento mais fraco alcançaria, pensar frágil na força do voar, como se lá pudesse penetrar palavras singrando o voo entre água e céu, um veleiro a sair da profundeza das águas escuras, aos poucos muda a cor, o límpido do pensar, a água se misturar com o olhar que sobe na distância a perder de vista. Como se juntasse o mar com o céu, o veleiro de um lado ao outro, serpenteando o tom de cores e textos, que ao subir sem jamais retornar à terra. No fundo o dia se pondo, o vermelho do sol, como o mar a transmutar no deserto ardente, na trajetória das fugas, no inventar dos lugares, existirá um pensamento eclíptico em consonância dos dias com o corpo. O fogo no coração, os olhos líquidos rumo ao escuro das águas. A noite alcança o corpo que

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Aquilo que chamo de ídolos no título é, simplesmente tudo aquilo que foi chamado de verdade até hoje (...) a velha verdade chegou ao fim" "A gente para caro por seu imortal: morre-se mais de uma vez durante a vida por causa disso" "(...) tudo aquilo que é decisivo nasce 'apesar de tudo', o meu Zaratustra nasceu sob esse inverno e sob o caráter desfavorável dessas circunstâncias" "Quando se desvia a seriedade da autoconservação, da fortificação do corpo, quer dizer, da vida, quando se faz da anemia um ideal, quando se constrói 'a salvação da alma' sobre o desprezo ao corpo, o que é isso se não uma receita para a décadence ?" "No fim das contas ninguém pode captar nas coisas, incluídos os livros, mais do que ele mesmo já sabe. Para aquilo que a gente não alcança através da vivência, a gente também não tem ouvidos" "Não é a dúvida, é a certeza que enlouquece... Mas para isso a gente tem de ser

As flores e o dia*

Hora das flores Regar, podar, admirar, Respirar seu encantamento Namorar sua beleza Inspirar seu perfume Silenciar no seu silêncio. No tempo certo chega Mansamente Afrodite, deusa do amor A celebrar Com ternura O amor mais que amar. Pode estar chuva Ou sol intenso Elas florescem em festa Pintam a natureza De mil cores Ensinando que Apesar de... A vida é bela Para quem sabe Olhar e ver. Escolha nossa Fazer drama Ou florescer No sentido do sofrer. Uns quedam e murcham Outros se eternizam Na poética trágica Do existir e ser. *Dra Rosângela Rossi Escritora, membro da Academia JuizForana de Letras, FiloNeuroTerapeuta, Filósofa Clínica, Psicopedagoga, Psicóloga, Embaixadora da Paz, Comendadora. Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Balzac aparecia raramente no mundo real, que estava situado fora do seu; estava encerrado na sua alucinação, como numa prisão; estava colado como um mártir à sua banca de trabalho, e quando empreendia uma dessas excursões fugitivas ao mundo da realidade, quando ia discutir com seu editor, levar suas provas ao prelo, comer em casa de um amigo ou percorrer as lojas de brinquedos de Paris, o que ele de lá trazia, eram sempre menos informações do que a confirmação daquilo que sabia" "Ser o meteorologista das correntes atmosféricas da sociedade, o matemático da vontade, o químico das paixões, o geólogo das formas primitivas das nações - em suma, um sábio múltiplo que sonda e ausculta, com toda sorte de aparelhos, o corpo de sua época (...) um pintor das paisagens contemporâneas e um soldado das ideias do seu século (...)" "Balzac não deve ser julgado, segundo um dos seus livros tomado em particular, mas, de acordo com o conjunto, deve ser considerado c

Uma fenomenologia dos roteiros*

“A solidão me madurou de borboleta... Estou apto, já posso discursar com minhas paredes.”                                            Djandre Rolim                    Na intenção de olhar absurdo um ânimo extraordinário descreve a novidade ao meu redor. À primeira vista se parece com um visar de fatia, uma sensação de incompletude, logo depois se desdobra em possibilidades de interseção. Seu caráter de obra-prima desenha, em cada mudança perspectiva, eventos de primeira vez a se repetir. As entrevistas e suas contradições colocam em movimento o que parecia imutável. Talvez o sentido buscado, sem se saber que existia, para a desconstrução dos cenários pré-agendados. Nesse vislumbre andarilho uma estética do imaginário se compõe dos percursos a percorrer. Sua busca, quando apressada, pode conformá-la nalguma ótica definível. O viés discursivo diante do espelho pode reivindicar um distanciamento maior para desembaçar suspeitas, desvendar vestígios, desajustar o foco exces

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