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Fragmentos Filosóficos, Delirantes, e algo mais*

"Descrevendo o lógos como um zôon , Platão segue alguns retóricos e sofistas que, antes dele, opuseram à rigidez cadavérica da escritura a fala viva, regulando-se infalivelmente sobre as necessidades da situação atual, as expectativas e a demanda dos interlocutores presentes, farejando os lugares onde ela deve se produzir, fingindo curvar-se no momento em que ela se apresenta ao mesmo tempo persuasiva e constrangedora. O lógos , ser vivo e animado, é também um organismo engendrado (...)" "(...) Todas as traduções nas línguas herdeiras guardiãs da metafísica ocidental têm, pois, sobre o phármakon um efeito de análise que o destrói violentamente, o reduz a um dos seus elementos simples ao interpretá-lo, paradoxalmente, a partir do posterior que ele tornou possível. Uma tal tradução interpretativa é, pois, tão violenta quanto importante: ela destrói o phármakon , mas ao mesmo tempo se proíbe atingi-lo e o deixa impenetrado em sua reserva (...)" "(...

Versões Extraordinárias*

Dentre os sentidos mais aguçados na interação do sujeito com seu ambiente destaca-se a extensão sobrenatural do olhar. Nele as figuras do inesperado se alternam numa dança incrível. Muitas vezes, imobiliza o corpo inteiro para maior nitidez aos fantásticos roteiros. Na busca por descrever ecos da imensidão desconhecida, não consegue perceber a inexistência de vocabulário para compartilhar essas vivências. Assim, na visão dos outros, isso tudo pode significar desatino.    No esboço dos inéditos discursos, ainda existe uma simbologia invisível a olho nu. Com medo de ser desmerecido socialmente, tenta referir coisas sem nenhuma novidade, para se integrar ao mundo normal. Ainda assim, os significados de maior intimidade, apreciam as tentativas de tradução. O visar delirante transgride fronteiras na vastidão do seu entorno. Cria dialetos de versão própria e percorre regiões desconhecidas. Aventura-se por onde ninguém mais poderá chegar, sem seu auxílio. Ao vislumbrar o rasc

Fragmentos Fiosóficos, Devaneios, e algo mais*

"Os escritores ampliam as possibilidades do idioma, levam-no ao limite, buscando sempre uma expressão mais imediata, mais próxima do fato em si que sentem e querem manifestar, quer dizer, uma expressão não-estética, não-literária, não-idiomática. O escritor é o inimigo potencial - e hoje já atual - do idioma. O gramático sabe disso e portanto está sempre vigilante, denunciando tropelias e transgressões, aterrado diante desse deslocamento paulatino de um mecanismo que ele concebe, ordena e fixa como uma perfeita, infalível máquina de enunciação" "Há um estado de intuição para o qual a realidade, seja ela qual for, só pode ser formulada poeticamente, dentro de modos poemáticos, narrativos, dramáticos: e isso porque a realidade, seja ela qual for, só se revela poeticamente (...)"  "(...) há uma realidade apreensível exclusivamente por vias poéticas; compartilha no século uma angústia coletiva do homem diante do problema do seu lugar no cosmos; angústia existencial

Instrução em Filosofia Clínica*

A Filosofia Clínica é um tema amplo a ponto de seu próprio sistematizador, Lúcio Packter, falar que mesmo uma enciclopédia seria um meio limitado para abarcá-lo. Tal tarefa, dizia ele, ficaria a cargo das gerações vindouras de estudiosos desta nova abordagem terapêutica. Em razão desta amplitude, tudo o que se disser sobre a Filosofia Clínica tocará apenas em breves partes do todo que a constitui. Dito isto, pretendo apontar orientações de estudos para os iniciantes a fim de que, ao exercer o trabalho de consultório ou usar seus princípios para as mais diversas áreas profissionais, tenham meios de obter resultados consistentes. Essas orientações não são imposições. Como trabalhamos com a questão da singularidade, cada aspecto apresentado deve ser acolhido, adaptado ou até recusado à medida que encontrar ou não consonâncias em sua Estrutura de Pensamento. A primeira orientação diz respeito ao domínio teórico da abordagem. Embora a prática seja mais complexa do que a exposição di

Fragmentos Filosóficos, Devaneios, e algo mais*

"(...) Para determinar com precisão o caráter específico de toda e qualquer forma do espírito, faz-se necessário, antes de tudo, medi-la pelos seus próprios padrões. Os critérios segundo os quais ela é avaliada e que norteiam a apreciação de suas produções não lhe devem ser impostos de fora, sendo, ao invés, indispensável que derivemos esses critérios das próprias leis básicas que determinam as suas formações (...)" "(...) Neste sentido, cada forma nova representa uma nova 'construção' do mundo, que se realiza de acordo com padrões específicos, válidos apenas para ela" "A diversidade das línguas não concerne aos sons e signos, e sim às concepções de mundo que lhes são inerentes. Nesta concepção encontram-se, para Humboldt, o fundamento e a finalidade suprema de todo e qualquer estudo da linguagem" "Desde cedo o estudo da linguagem constituiu para Wilhelm von Humboldt o cerne de todo o seu interesse e de todas as suas metas intelectuais; já em

Invisíveis*

O que há com aqueles companheiros que esperam calmos e silenciosos ali na plataforma, tão calmos e silenciosos que colidem com a multidão em sua própria imobilidade”                                                                    Ralph Ellison (Homem invisível)   Não engane os vivos, a prova de amor mais bela, a oculta vem para depois do medo, o invisível luta o que pinta, quem escreve morrerá nunca. A música que toca, o texto na tela não é como marca imposta no corpo. Somos milhões pelo mundo, nunca morremos, desaparecemos, cherie . Aos poucos, nos unimos no fundo, profundezas da dor, então, estamos vivos novamente. Continuamos dançando, pintando, o canto nunca silenciará. Somos criaturas invisíveis, somos vozes e corpos que renascem da dor. Somos a mistura da arte com a vida que é ofuscada, da voz que é aterrorizada, vozes surgem de todos os lados do mundo, a invisibilidade é a poética da resistência. A liberdade está dentro dos olhos tristes, da negritude, da brancura e d

Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*

"(...) Uma saída é algo que se inventa. E cada um, inventando sua própria saída, inventa-se a si mesmo. O homem é para ser inventado a cada dia" "Digo inventou e não descobriu porque, quando um objeto está absolutamente escondido, é preciso inventá-lo por inteiro para poder descobri-lo" "(...) uns e outros afirmam que a literatura tem por objeto um determinado além inefável, que se pode apenas sugerir, e que ela é, por essência, a realização imaginária do irrealizável" "É que a literatura, salvo no caso de um êxito suspeito, não dava sustento a ninguém na época em que começaram a escrever (...) ela só pode ser uma ocupação 'marginal', ainda que acabe se tornando o principal interesse de quem a exerce" "(...) a burguesia bem sabe que o escritor secretamente tomou seu partido: tem necessidade dela para justificar sua estética de oposição e de ressentimento; é dela que recebe os bens que consome; no fundo, deseja

Isolamento social, ideologia e privilégio de classe*

A linguagem é dialética. Para apreender toda a extensão do que é dito, é preciso captar não só o seu significado explícito, mas também o que se oculta. Todos sabemos: em período de pandemia, é preciso ficar em casa, cumprindo com o máximo de rigor a clausura, para que possamos nos proteger mutuamente. Esse é o aspecto evidente da frase das campanhas do tipo "fica em casa!". * * * Porém, nestes nossos tempos estranhos uma estrutura hermenêutica oculta se ilumina toda vez que alguém pede que não saiamos à rua. Sob esse pedido surge, dialeticamente, um outro significado que nega o que está explícito: toda vez que pedimos que se "fique em casa", imediatamente pressupomos a existência de uma rede social composta por pessoas que não têm o direito de ficar em casa. O confinamento de parte da população somente é possível se outra parte da população permanecer em seu trabalho pronta para servir a quem está isolado. Para que uma parte da população possa, por meio do

Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*

"(...) Tudo o que possamos ter aprendido com a leitura dos clássicos agora nos é necessário para julgar a obra de nossos contemporâneos, pois, enquanto houver vida neles, estarão lançando suas redes em algum abismo desconhecido para capturar novas formas, e teremos de lançar nossa imaginação em seu encalço, se quisermos aceitar e entender os singulares presentes que nos trazem de volta (...)"  "(...) E se o mundo conhecido for apenas o prelúdio de um panorama mais esplêndido ? (...)" "(...) uma atmosfera não só fina e suave, mas também rica, com mais do que conseguimos captar numa só leitura (...)" "(...) Quem vem depois aprimora o trabalho dos pioneiros (...)" "(...) o único conselho sobre leitura que alguém pode dar a outra pessoa é não aceitar conselhos, seguir seus instintos, usar sua razão, chegar a suas próprias conclusões (...) Admitir a entrada de autoridades, por mais paramentadas que estejam, em nossas bibliote

Estéticas da desconstrução*

"A poesia é de certo uma loucura,   (...)  É um defeito no cérebro (...)   É um grande favor, é muita esmola.   Dizer-lhes bravo!  À inspiração divina, e, quando tremem de miséria e fome, dar-lhes um leito no hospital dos loucos..."                                                                    Álvares de Azevedo   Rainer Maria Rilke inicia em 1898, aos 23 anos, os escritos do "Diário de Florença", por sugestão de Lou Andréas-Salomé. O inevitável viria depois: uma declaração de amor à vida e à beleza. Quiçá tradução de maior alcance na insinuação plural contida na descrição dos jardins, ruelas e esculturas.   Nas páginas iniciais o poeta já busca estabelecer pontos de contato com o coração da musa. Diz sua poesia: "Minha alegria permanece impessoal e sem brilho, enquanto dela não participares como confidente - ao menos por intermédio de alguma anotação íntima e sincera sobre esta alegria em um livro que te pertence". Entrelinhas de embriagu

Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*

   "(...) De pé junto à mesa, abri maquinalmente o livro que trouxera no dia anterior para compilação e, pouco a pouco, fui sendo absorvido pela leitura. Isso me acontece com frequência: pego um livro, abro por um momento para fazer uma consulta, e perco a tal ponto a noção do tempo com a leitura que me esqueço de tudo"  "(...) Em parte, devia-se também ao conhecimento demasiado limitado que tinha do mundo, à sua falta de costume de lidar com as pessoas, ao isolamento em seu canto. Passara a vida toda em seu cantinho, quase sem sair. E, por fim, ela havia desenvolvido um grau elevado essa característica das pessoas mais bondosas, transmitida talvez pelo pai, de cumular uma pessoa de elogios, de considerá-la obstinadamente melhor do que de fato é, de exagerar irrefletidamente tudo o que ela tem de bom. A decepção posterior é penosa para essas pessoas; e mais penoso ainda é sentir que a culpa disso é delas próprias (...)" "(...) deito no sofá (...) e fico imagina

Notas para uma instrução em filosofia clínica*

Quando iniciamos o curso de filosofia clínica, nos vemos diante de uma novidade ou, nas palavras de Thomas Kuhn, de um “novo paradigma”. Trata-se de uma área com um vocabulário inédito. Embora as palavras ou expressões possam soar como bem familiares, seu sentido tende a ser distinto do que obtemos no cotidiano ou do que os dicionários apontam. Não somente as palavras, mas todo o arcabouço metodológico nos abre os horizontes para novas perspectivas. Há nisso um desafio. Pois, além de um conhecimento teórico, a filosofia clínica é principalmente o aprendizado de uma prática. Dito isto, gostaria de sugerir caminhos para a melhor compreensão desse conteúdo. Não são os únicos, há inúmeros outros. Por isso, e levando em conta nossa singularidade, a proposta deve ser assimilada de acordo com o que fizer algum sentido para cada um de vocês. Algumas ideias poderão ser descartadas, outras, parcialmente aproveitadas, e haverá ainda as que serão inteiramente utilizadas. Portanto, usem de ac

Fragmentos Filosóficos, Devaneios, e algo mais*

"(...) Quem traz consigo tais conhecimentos e ainda se exercitou em algumas técnicas de uso prático, ficará, sem embargo, desarmado diante da realidade real, que sempre difere do que o cidadão comum entende por proximidade da vida e da realidade (...) E por que ? Porque não possui saber, pois saber significa: poder aprender" "(...) É na palavra, é na linguagem, que as coisas chegam a ser e são (...)" "Toda forma essencial do espírito é sempre ambígua. Quanto mais for incomparável com qualquer outra coisa, tanto maior será o índice de sua incompreensão" "Toda questão essencial da filosofia acha-se necessariamente fora de seu tempo (...) A filosofia se acha necessariamente fora de seu tempo, por pertencer àquelas poucas coisas, cujo destino consiste em nunca poder nem dever encontrar ressonância imediata na atualidade (...)" "(...) Quem instaura vigor, o criador que alcança o não-dito, que irrompe no não-pensado, que conquista o não-acontecido

Nota Oficial:

Os atendimentos na modalidade on line, devido aos eventos da Pandemia, estão sendo oferecidos por Filósofos Clínicos da Casa da Filosofia Clínica, devidamente habilitados e atuantes, com disponibilidade em suas agendas, residentes ou não na região sul do país. Inicialmente são acolhidos por uma supervisão que, posteriormente, encaminha os interessados para um membro da equipe.  Informações e orientações: casadafilosofiaclinica@gmail.com                                                                                                                             Coordenação

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