"(...) Uma saída é algo que se inventa. E cada um, inventando sua própria saída, inventa-se a si mesmo. O homem é para ser inventado a cada dia"
"Digo inventou e não descobriu porque, quando um objeto está absolutamente escondido, é preciso inventá-lo por inteiro para poder descobri-lo"
"(...) uns e outros afirmam que a literatura tem por objeto um determinado além inefável, que se pode apenas sugerir, e que ela é, por essência, a realização imaginária do irrealizável"
"É que a literatura, salvo no caso de um êxito suspeito, não dava sustento a ninguém na época em que começaram a escrever (...) ela só pode ser uma ocupação 'marginal', ainda que acabe se tornando o principal interesse de quem a exerce"
"(...) a burguesia bem sabe que o escritor secretamente tomou seu partido: tem necessidade dela para justificar sua estética de oposição e de ressentimento; é dela que recebe os bens que consome; no fundo, deseja conservar a ordem social para nela poder sentir-se um perpétuo estranho (...)"
"Nada mais assustador para seu público do que o talento, loucura ameaçadora e feliz, que descobre o fundo inquietante das coisas por meio de palavras imprevisíveis, e, através de repetidos apelos à liberdade, vasculha o fundo ainda mais inquietante dos homens"
"(...) Ele paira, sobrevoa, é pensamento puro e puro olhar: decide escrever para reivindicar sua marginalização de classe, que ele assume e transforma em solidão; contempla os poderosos de fora, com os olhos dos burgueses, e também os burgueses de fora, com os olhos da nobreza"
"Uma obra do espírito é naturalmente alusiva. Ainda que o propósito do autor seja dar a mais completa representação do seu objeto, ele jamais conta tudo (...)"
"Mas como aquilo que o autor cria só ganha realidade objetiva aos olhos do espectador, é pela cerimônia do espetáculo - e particularmente da leitura - que essa recuperação é consagrada"
"Uma vez que a criação só pode encontrar sua realização final na leitura, uma vez que o artista deve confiar a outrem a tarefa de completar aquilo que iniciou, uma vez que é só através da consciência do leitor que ele pode perceber-se como essencial à sua obra, toda obra literária é um apelo "
"(...) as cem mil palavras alinhadas num livro podem ser lidas uma a uma sem que isso faça surgir o sentido da obra; o sentido não é a soma das palavras, mas sua totalidade orgânica. Nada acontecerá se o leitor não se colocar, logo de saída e quase sem guias, à altura desse silêncio (...) E se alguém me disser que seria preferível chamar essa operação de reinvenção ou descoberta, responderei que, em primeiro lugar, tal reinvenção seria um ato tão novo e tão original quanto a invenção primeira"
*Jean-Paul Sartre in "Que é a Literatura ?". Ed. Vozes. Petrópolis/RJ. 2015.
Comentários
Postar um comentário