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Fragmentos Filosóficos, Devaneios, e algo mais*

"(...) o homem sempre é, além de homem, outra coisa: anjo, demônio, fera, deus, fatalidade, história - algo impuro, alheio, outro."

"(...) O homem é inacabado, embora seja cabal nessa inconclusão; e por isso faz poemas, imagens, nas quais se realiza e se conclui sem nunca concluir totalmente (...)"

"(...) Ser si mesmo é condenar-se à mutilação porque o homem é apetite perpétuo de ser outro"

"(...) Seus signos não são uma linguagem: são os marcos que sinalizam as fronteiras, sempre em movimento, entre o homem e a realidade inexplorada"

"Estamos condenados a buscar a razão da desrazão"

"O poeta limpa de erros os livros sagrados e escreve inocência onde se lia pecado, liberdade onde estava escrito autoridade, instante onde se gravara eternidade"

"(...) O homem original é inocente e cada um de nós tem em si um Adão. O próprio Cristo é Adão. Os dez mandamentos são invenção do Demônio (...) A missão do poeta é restabelecer a palavra original, distorcida pelos sacerdotes e pelos filósofos (...) A razão cria cárceres mais escuros que a teologia. O inimigo do homem se chama Urizen (a Razão), o 'deus dos sistemas', o prisioneiro de si mesmo. A verdade não provém da razão, mas da percepção poética, ou seja, da imaginação" 

"A missão do poeta consiste em ser a voz desse movimento que diz Não a Deus e aos seus funcionários e Sim aos homens. As escrituras do mundo novo serão as palavras do poeta revelando um homem livre de deuses e senhores, já sem intermediários diante da morte e da vida. A sociedade revolucionária é inseparável da sociedade baseada na palavra poética (...)"

"Novalis afirma que a unidade se rompe no momento em que é conquistada. A contradição nasce da identidade, num processo sem fim. O homem é pluralidade e diálogo sem cessar, lembrando e reunindo-se consigo mesmo, mas também dividindo-se sem cessar (...) O poeta é, ao mesmo tempo, o objeto e o sujeito da criação poética"

"A poesia nos abre a possibilidade de ser que decorre de todo nascer; recria o homem e o faz assumir sua verdadeira condição, que não é a alternativa vida ou morte, mas uma totalidade: vida e morte num único instante de incandescência (...)"

"A poesia é metamorfose, mudança, operação alquímica, e por isso faz fronteira com a magia, a religião e com outras tentativas de transformar o homem e fazer 'deste' e 'daquele' o 'outro' que é ele mesmo"

"Léxicos e gramáticas são obras condenadas a nunca estar prontas. O idioma está sempre em movimento, mas o homem, por ocupar o centro do redemoinho, poucas vezes percebe essa mudança incessante"

*Octavio Paz in  "O Arco e a Lira". Ed. Cosac Naify. SP. 2012.

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