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Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*

 "(...) Em alguns dos primeiros quadros de Goya (...) há algo que perturba, mas não se sabe o que seja. Não a princípio. É porque em todo grupo daquelas pessoas, encantador, o formal, o pastoral, o essencialmente civilizado, há sempre uma que olha diretamente para fora do grupo, para fora da tela, para os olhos da pessoa que contempla o quadro. Essa pessoas que se recusa a conformar-se com as convenções do quadro em que o artista a colocou, interpela e de fato destrói a convenção (...)"

"Às vezes, quando se lê um livro ou uma história, as palavras estão mortas, você luta para terminá-lo ou largá-lo, a sua atenção vagueia. Em outra ocasião, exatamente com o mesmo livro ou história, ele parece cheio de significado e ideias, ao lê-lo você parece estar-se enchendo de adrenalina (...)"

"(...) então temos de aceitar como verdade a sugestão inacreditável de que não só um pássaro, o raio, música, chuva, as palavras de uma cantiga de roda, mas também um homem falando num salão de conferências meio feio podem ter essa qualidade, sem o saber. Assim como um pássaro pode cantar o verão inteiro sem nunca saber que os sons que faz ficarão a vida toda nos ouvidos de uma criança, nas ruas manchadas como a cristalização da promessa de uma primavera que volta (...)"

"(...) O esforço de olhar fixamente foi quase demais para mim. Meus olhos queriam fechar-se, pois o que quer que fosse que eu não conseguia ver mas que estava ali pertencia a um plano de existência que os meus olhos não eram suficientemente evoluídos para ver (...)"

"(...) quando você ou eu nos questionamos (...) O que sou eu ? O que é esse Tempo ? O que é a prova para um Tempo que não é mortal como uma folha no outono ? Então a resposta é que Aquilo que faz a pergunta está fora do tempo do mundo (...)"

"(...) Mas se você algum dia já alimentou grandes esperanças que finalmente se realizam, saberá que esperar algo implica encontrá-lo. Se você mentalizou um monstro de oito pernas com olhos enormes, então, se houver uma criatura dessas no mar, você não verá nem mais nem menos do que esse tipo de coisa. Podem aparecer exércitos de anjos das ondas, mas se você estiver esperando um gigante de um olho só, poderá navegar bem no meio deles e não sentir nada além de um frescor no ar (...)"

"(...) Dr. Y - Como se chama ? Paciente - Jonas; Dr. Y - Ontem era Jasão. Não pode ser nenhum dos dois. Paciente - Somos todos marinheiros; Dr. Y - Eu não. Sou médico. Paciente - Se não sou marinheiro, você não é médico (...)"

"(...) Não me lembro de minha mulher nem de minha amante. Sou muito atraente para as mulheres, isso está bem claro. As duas me odeiam (...)" 

"(...) Vou lhe dizer, se quiser. Algumas palavras combinam. Uma palavra sai de sua boca e combina com alguma coisa que eu conheço. Outras palavras não se casam com o que posso ver (...)"

"(...) A ansiedade é uma delas. O sentido de urgência. Ah, eles a transformam em doença, eles a enfeitiçam e expulsam, com suas drogas mágicas. Mas não é à toa. Não é sem ligação. Eles falam em 'estado de ansiedade' como falam em paranóia, mas todas essas coisas tem um significado, são reflexos daquela outra parte de nós, e aquela parte de nós sabe de coisas que não sabemos (...)" 

*Doris Lessing in "Roteiro para um Passeio ao Inferno". Ed. Record. RJ. 1971. 

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