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Notas sobre a formação em Filosofia Clínica*

Como a Filosofia Clínica é uma área que ajuda no autoconhecimento e na compreensão do ser humano de modo geral e em sua complexidade, profissionais de outras áreas aproveitam o que aprendem com esse curso para lidar melhor com as questões pessoais e com sua relação com o ambiente, os colegas e os clientes de suas respectivas profissões. Além disso, há propostas bem direcionadas para o trabalho em empresas que têm dado frutos (SC e RS) e está em constante progresso, houve experiências em hospitais psiquiátricos com bons resultados (MG, RS, PI), houve pesquisas para a contribuição na área da educação (SP) entre outras. É uma pequena parte de formados em Filosofia Clínica que atende como terapeuta. A maior parte a usa para aperfeiçoamento pessoal e profissional. Por isso, há médicos, advogados, empresários, professores, artistas plásticos, dentistas entre outros que usam o que aprendem na filosofia clínica para suas áreas de atuação. É bom ressaltar também que assim como p

Fragmentos Filosóficos, Libertários, e algo mais*

"A loucura é a revolução permanente na vida de uma pessoa" "Razão e desrazão são ambas maneiras de conhecer. A loucura é uma maneira de conhecer, outro modo de exploração empírica dos mundos tanto interior como exterior. A razão para a exclusão e invalidação da loucura não é puramente médica, nem estritamente social. É, como tentarei demonstrar, política" "Não-psiquiatria significa que o comportamento profundamente perturbador, incompreensível e louco deve ser contido, incorporado na sociedade global e nela disseminado como uma fonte subversiva de criatividade, espontaneidade, não doença" "A violência da psiquiatria só pode ser compreendida com base no seu dogma fundamental: se não compreende o que outro ser humano está a fazer, diagnostique-o!. Nunca deixará de encontrar vítimas coniventes que farão o jogo. Mas começamos agora a cansar-nos desse jogo" "O novo fator revolucionário é que as pessoas começam a fazer amor em

Anotações, Reflexões, Percepções de um Filósofo Clínico*

Vejo muitos - inclusive professores! - atribuindo ao Paulo Freire a responsabilidade pelo estado lastimável da educação no Brasil. Para problemas incrivelmente difíceis, a mente simplória costuma encontrar causas milagrosamente fáceis - e espetacularmente equivocadas. * * * Não foi ontem que o Lima Barreto ridicularizou a cultura bacharelesca brasileira: "Triste Fim de Policarpo Quaresma" é de 1915. O Richard Feynman, Nobel de Física, desnudou a farsa do modelo pedagógico brasileiro quase vinte anos antes da "Pedagogia do Oprimido", que é de 1968. Amigos, a educação no nosso país é ruim demais há muito, muito tempo. O Paulo Freire não pode ser responsabilizado por problemas que existiam décadas antes da sua obra. * * * Uma das causas da miséria da educação brasileira é a miséria da cultura da elite nacional. O brasileiro é apaixonado pelos sinais exteriores de status, inclusive no plano intelectual. O objetivo da educação, entre nós, nunca

Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*

"A palavra poética jamais é completamente deste mundo : sempre nos leva mais além, a outras terras, a outros céus a outras verdades" "(...) O poema é linguagem - e linguagem antes de ser submetida à mutilação da prosa ou da conversação -, mas é também mais alguma coisa. E esse algo mais é inexplicável pela linguagem, embora só possa ser alcançado por ela. Nascido da palavra, o poema desemboca em algo que a transpassa" "O poema nos faz recordar o que esquecemos: o que somos realmente" "(...) Irredutível, elusiva, indefinível, imprevisível e constantemente presente em nossas vidas, a alteridade se confunde com a religião, a poesia, o amor e outras experiências afins. Surge com o próprio homem, de modo que pode dizer-se que se o homem se fez homem por obra do trabalho, teve consciência de si graças à percepção de sua radical alteridade" "(...) Seus signos não são uma linguagem: são os sinais que marcam as fronteiras, sempre

Rasuras a Foto Inesquecível***

O processo de reinvenção pessoal está vinculado à superação dos obstáculos de travessia. As etapas de antes ou depois costumam exigir menos. A interseção entre ideia e atitude será testada e pode não bastar. A escolha e ensaio dos procedimentos, além de um robusto autoconhecimento, podem ser decisivos para concretizar buscas. Um freio eficaz é a revisita ao velho álbum de fotografias. A escolha dos conselheiros, a idealização do que já passou. Olhar para trás, seguidamente e sem perspectiva, agenda retrocessos, estanca transbordamentos, aprecia a sensação de protagonista em uma estória que não lhe pertence mais. A pessoa refém dessa lógica, ao querer matar a saudade, mata a vida passando. Sim, existem pessoas que vivem bem onde estão. Não se sentem ameaçadas com a transformação ao seu redor. Existencialmente pacificadas, testemunham a movimentação alheia com certa tranquilidade.  Outra armadilha de transição é a impressão de que os outros acompanham sua mudança. Ao tra

Fragmentos Filosóficos, Antropológicos, e algo mais*

"Para retornar a oposição modernidade/pós-modernidade, podemos dizer que, na primeira, a história se desenrola, enquanto que na segunda o acontecimento advém. Ele se intromete. Ele força e violenta. Daí o aspecto brutal, inesperado, sempre surpreendente que não deixa de ter"  "Acrescentarei que o redobramento é a marca simbólica do plural. Por isso, cada um torna-se um outro. Comunga com o outro e com a alteridade em geral" "(...) nenhum problema é definitivamente resolvido, mas que encontramos, pontual e empiricamente, respostas aproximadas, pequenas verdades provisórias, postas em prática no cotidiano, sem que se acorde um estatuto universal, oralmente válido em todo lugar, em todo tempo, e para cada um" "Há aqui uma antinomia de valores que merece ser pensada: a morosidade do instituído, a alegria do instituinte. Antinomia que se manifesta, cada vez mais, com toda clareza, em particular nas voracidades festivas, no culto ao corpo,

Despir-se de si*

Não fazer do mundo uma extensão de minhas interpretações. Este é um imperativo intrínseco à Filosofia Clinica. Não vamos encontrar isso nos cadernos de estudos nem nas aulas. Isso é um aprendizado da prática. Compreender a Filosofia Clinica na prática é admirar o mundo, as pessoas, as coisas, as situações, sem querer dar a nossa solução ou interpretação para tudo. A Filosofia Clinica nos ensina como as pessoas podem nos falar de si mesmas. Sem interpretá-las, nós aprendemos delas sobre elas. Reconhecemos diretamente da fonte. Interpretações são secundárias. Afinal é melhor ler uma obra do que o comentador dela. Entrar no universo significativo do outro é abandonar, por momentos, meu próprio universo, ainda que em parte. A recíproca de inversão, ato de ir ao mundo significativo do outro, é um exercício nem sempre tão fácil. As significações são tantas, e algumas podem nos confrontar com valores e modos de viver totalmente opostos aos nossos. Do mesmo modo outro risco

Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*

"(...) Para realizar essa obra, Machado de Assis não se valeu unicamente dos elementos que tirou de si mesmo, mas sobretudo daquilo que encontrou em outros mestres; sua habilidade consistiu em assimilar as lições alheias, sem prejuízo de sua autenticidade pessoal" "Contou Júlio César Machado, num velho folhetim de jornal que, em visita ao Visconde de Castilho, deste ouviu a observação de que tudo se acha nos livros. Pouco depois, deu por falta de seus óculos. Procura nos livros - disse-lhe risonhamente o Visconde. Asim fez o jornalista. E a verdade é que os encontrou dentro de um livro onde os havia esquecido"  "De Assis Chateaubriand poderemos dizer que não foi um homem na singularidade de seu feitio, mas sim uma multidão, com a multiplicidade de suas expressões humanas. Jornalista, homem de letras, professor, homem de empresa, advogado, político, diplomata, agricultor, crítico de arte, fazendeiro, comerciante, tudo isso ele foi no transbordamento

2020 - Recomeço ou continuação?*

David era um menino que não sabia direito a origem de seu nome. Seu pai dizia que era uma homenagem ao grande mágico americano David Copperfield, a mãe replicava alegando que deu o nome pensando no rei David, o grande sábio de Israel. Seja como for, eram duas grandes personalidades inspiradoras para sua vida. Aos cinco anos de idade, como presente de aniversário, foi levado a Las Vegas para assistir ao show de mágicas de seu suposto influenciador nominal. Ficou encantado. Ao final, mais uma surpresa, tirou fotos, abraçou e foi presenteado com a varinha mágica do próprio David Copperfield. No outro dia, ainda no quarto do hotel, chorava copiosamente. Havia sido enganado pelo ídolo. A varinha presenteada não fazia mágica alguma. Era falsa. Frustrado, magoado e indignado com seu xará, enfiou a varinha num saco e prometeu que seria um mágico muito melhor que seu homônimo.   Aos 18 anos, David teve a primeira desilusão amorosa. Não sabia mais o que fazer para reconquistar a

Fragmentos Filosóficos, Devaneios, e algo mais*

"(...) Mas, quando se trata de obras que gostamos de rever ou de reler, a desordem é sempre uma outra ordem, um novo sistema de equivalência exige essa subversão, não qualquer uma, e é em nome de uma relação mais verdadeira entre as coisas que seus laços ordinários são desatados. Um poeta tem por tarefa, definitivamente, traduzir essas palavras, essa voz, esse acento cujo eco cada coisa ou cada circunstância lhe envia" "(...) precisamos considerar a fala antes de ser pronunciada, sobre o fundo do silêncio que a precede, que não cessa de acompanhá-la, e sem o qual ele nada diria; mais ainda, precisamos ser sensíveis aos fios de silêncio com que é tramado o tecido da fala" "Talvez se veja melhor de que maneira a linguagem significa se a considerarmos no momento em que ela inventa um meio de expressão" "De que maneira compreender esse momento fecundo da língua, que transforma um acaso em razão e, de um modo de falar que desaparecia, faz

Fenomenologia das imagens***

                          “As sílabas recolhidas pelos lábios — belo silencioso círculo — ajudam a estrela rastejante em seu centro.”                                                                        Paul Celan Os sentimentos andam ao lado de nossa vontade. Nossos desejos não são alterações meteorológicas e sim psíquicas. São funções de nossas percepções e sonhos. Um cruzar de ideias que percorrem o tempo de nossa existência. Esse cruzar complexo, onde mora o único valor, o que pode nos manter vivos todas às manhãs quando acordamos. É o acordar do “trajeto antropológico” sob as imagens que circulam nosso Ser esse tempo todo. Sonoridade na dor, na despedida e nas chegadas das imagens. O encontro do vivido com o que buscamos mais adiante do olhar. Meus sentimentos começaram antes do século XX findar. Bem antes, quando ainda sentia poder encontrar através das imagens todas as linguagens que fossem o expressar do cotidiano. O cotidiano lançou seus dados Mallarmaico

Fragmentos Filosóficos, Existenciais, e algo mais*

"(...) O povo prefere, em vez do técnico, possuidor da ciência das moléstias, o 'homem que cura', o que tem 'poder' sobre a doença. Não importa que há anos a bruxaria e o demonismo se tenham volatilizado e transformado em luz elétrica; a fé nestes homens maravilhosos e feiticeiros tem permanecido mais viva do que parece e do que não nos atrevemos a confessar publicamente"  "O povo continua preferindo ao 'frio instrumento', o homem vivo, de sangue ardente, de onde 'emana o poder'. O herbanário, o pastor, o exorcista e o hipnotizador, precisamente por não exercerem suas práticas de cura como ciência, e sim como arte e, mais ainda, como uma arte de nigromância, despertam nas aldeias maior confiança do que o médico com diploma de facultativo" "(...) Da mesma maneira que o sangue, sem ter escutado a lição de nenhum químico, fabrica antitoxinas, assim também o organismo, sustentador e organizador de si próprio, sabe, a mai

Anotações e reflexões de um filósofo clínico*

Ao lermos os diários e as correspondências de líderes políticos, de militares do alto escalão e de escritores e intelectuais, percebemos que os grandes acontecimentos da História quase nunca são públicos - ao contrário: quase sempre são eventos privados, frutos de encontros, sentimentos pessoais e circunstâncias que em nada prenunciavam aquilo que posteriormente viria a ser reduzido a "fatos históricos" descritos em manuais. * * * A História escrita, em todas as suas escolas, é a História institucional. Ela captura somente a superfície dos eventos. Mas é incapaz de descrever o tecido de relações pessoais e percepções privadas que rege os caminhos da humanidade. * * * Para completar: com uma grande freqüência, as personagens principais e os verdadeiros eventos decisivos da História permanecem completa e irremediavelmente subestimados, desprezados ou ignorados. * * * Dito isso tudo, resta a conclusão à moda de Vaihinger: praticamente tudo o

Fragmentos Filosóficos, Antropológicos, e algo mais*

"A coisa mais importante a saber acerca dos humanos pré-históricos é que eles eram animais insignificantes, cujo impacto sobre o ambiente não era maior que o de gorilas, vaga-lumes ou águas-vivas" "Há apenas 6 milhões de anos, uma mesma fêmea primata teve duas filhas. Uma delas se tornou a ancestral de todos os chimpanzés; a outra é nossa avó"  "(...) As pessoas entendem facilmente que os 'primitivos' consolidam sua ordem social acreditando em deuses e espíritos e se reunindo a cada lua cheia para dançar juntos em volta da fogueira. (...) nossas instituições modernas funcionam exatamente sobre a mesma base" "Tente imaginar o quão difícil teria sido criar Estados, ou igrejas, ou sistemas jurídicos se só fôssemos capazes de falar sobre coisas que realmente existem, como rios, árvores e leões" "(...) desde a revolução cognitiva o Homo sapiens tem sido capaz de revisar seu comportamento rapidamente de acordo com nece

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