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Fragmentos Filosóficos, Devaneios, e algo mais*


"(...) Mas, quando se trata de obras que gostamos de rever ou de reler, a desordem é sempre uma outra ordem, um novo sistema de equivalência exige essa subversão, não qualquer uma, e é em nome de uma relação mais verdadeira entre as coisas que seus laços ordinários são desatados. Um poeta tem por tarefa, definitivamente, traduzir essas palavras, essa voz, esse acento cujo eco cada coisa ou cada circunstância lhe envia"

"(...) precisamos considerar a fala antes de ser pronunciada, sobre o fundo do silêncio que a precede, que não cessa de acompanhá-la, e sem o qual ele nada diria; mais ainda, precisamos ser sensíveis aos fios de silêncio com que é tramado o tecido da fala"

"Talvez se veja melhor de que maneira a linguagem significa se a considerarmos no momento em que ela inventa um meio de expressão"

"De que maneira compreender esse momento fecundo da língua, que transforma um acaso em razão e, de um modo de falar que desaparecia, faz de repente um novo, mais eficaz, mais expressivo, como o refluxo do mar após uma onda excita e faz crescer a onda seguinte ?"

"Não se fará ideia do poder da linguagem enquanto não se tiver reconhecido essa linguagem operante ou constituinte que aparece quando a linguagem constituída, subitamente descentrada e privada de seu equilíbrio, ordena-se de novo para ensinar ao leitor - e mesmo ao autor - o que ele não sabia pensar nem dizer"

"O livro não me interessaria tanto se me falasse apenas do que conheço. De tudo que eu trazia ele serviu para atrair-me para mais além. Graças aos signos sobre os quais o autor e eu concordamos, porque falamos a mesma língua, ele me fez justamente acreditar que estávamos no terreno já comum das significações adquiridas e disponíveis. Ele se instalou no meu mundo. Depois, imperceptivelmente, desviou os signos de seu sentido ordinário, e estes me arrastam como um turbilhão para um outro sentido que vou encontrar(...)"

"(...) Nossa língua reencontra no fundo das coisas a fala que as fez"

"(..) No momento em que acreditamos apreender o mundo, tal como ele é sem nós, não é mais o mundo que apreendemos, já que estamos ali para apreendê-lo (...) restará sempre, por trás de nossas afirmações sobre a linguagem, mais linguagem viva do que estas conseguirão fixar sob nosso olhar"

*Maurice Merleau-Ponty in "A Prosa do Mundo". Ed. Cosac & Naify. SP. 2002.

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