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Fragmentos Filosóficos Clínicos, Reflexivos, e algo mais***


"Neste capítulo, tentarei demonstrar que atualmente a noção de doença mental é usada principalmente para obscurecer e invalidar, por meio de explicações, os problemas das relações pessoais e sociais; e que a noção de bruxaria foi usada do mesmo modo no final da Idade Média"

"(...) a visão de que as chamadas doenças mentais são mais idiomas do que doenças não foi ainda adequadamente articulada, nem suas implicações totalmente apreciadas"

"(...) A eterna frustração dos psiquiatras e psicoterapeutas vem, portanto, do simples fato de que em geral eles tentam ensinar novas línguas a pessoas que não têm o menor interesse em aprendê-las"

"O simbolismo representativo presta-se à expressão dos problemas ditos psiquiátricos, porque eles dizem respeito a dificuldades que são, por sua própria natureza, experiências humanas concretas. Os seres humanos não sofrem de complexo de Édipo, frustração sexual ou ódio reprimido, como abstrações; eles sofrem a partir de suas relações específicas com os pais, esposas, filhos, patrões, e assim por diante"

"(...) se o terapeuta deseja representar seu papel concretamente, não deverá ser influenciado por considerações socialmente perturbadas em relação a seu paciente. Essa condição poderá ser atingida com mais facilidade se o relacionamento for rigidamente restrito a duas pessoas"

"(...) rotular os indivíduos que se sobressaem ou que são incapacitados por problemas da vida, de 'doentes mentais' apenas impediu e retardou o reconhecimento da natureza política e moral dos fenômenos para os quais se dirigem os psiquiatras"

"(...) Em suma, Charcot e Guillotin facilitaram às pessoas - especialmente aquelas socialmente oprimidas - serem doentes ou morrer. Nenhum deles lhes facilitou terem saúde ou viver. Eles usaram seu prestígio e conhecimento médico para ajudar a sociedade a modelar-se segundo uma imagem que fosse agradável a ela mesma" 

"(...) O pale de doente mental, portanto, é frequentemente imposto às pessoas contra sua vontade. Em suma, o papel de doente em psiquiatria é tipicamente definido por outros"

"(...) a maior parte do que chamamos 'ética médica' não passa de um conjunto de regras paternalistas cujo objetivo é diminuir o paciente e engrandecer o médico. Uma verdadeira mudança no tratamento médico (...) requer a libertação e total emancipação do paciente - mudança que só poderá realizar-se ás custas de um total compromisso com a ética da autonomia e da reciprocidade. Isso significa que todas as pessoas - sejam elas doentes ou depravadas, perversas ou loucas - devem ser tratadas com dignidade e respeito, e que essas pessoas também devem ser responsáveis por sua própria conduta" 

*Dr. Thomas S. Szasz in "O Mito da Doença Mental". Ed. Círculo do Livro/SP. 1980.

** Médico Psiquiatra. Prof. da Universidade Estadual de Nova York. Universidade Médica do Norte. Associação Americana para a Abolição da Hospitalização Mental Involuntária. Universidade de Cincinnati. Recebeu dezenas de prêmios e distinções nacionais e internacionais, em razão de sua atuação como médico libertário.

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