David era um menino que
não sabia direito a origem de seu nome. Seu pai dizia que era uma homenagem ao
grande mágico americano David Copperfield, a mãe replicava alegando que deu o
nome pensando no rei David, o grande sábio de Israel. Seja como for, eram duas
grandes personalidades inspiradoras para sua vida.
Aos cinco anos de idade,
como presente de aniversário, foi levado a Las Vegas para assistir ao show de
mágicas de seu suposto influenciador nominal. Ficou encantado. Ao final, mais
uma surpresa, tirou fotos, abraçou e foi presenteado com a varinha mágica do
próprio David Copperfield.
No outro dia, ainda no
quarto do hotel, chorava copiosamente. Havia sido enganado pelo ídolo. A
varinha presenteada não fazia mágica alguma. Era falsa. Frustrado, magoado e
indignado com seu xará, enfiou a varinha num saco e prometeu que seria um
mágico muito melhor que seu homônimo.
Aos 18 anos, David teve a
primeira desilusão amorosa. Não sabia mais o que fazer para reconquistar a
garota de seus sonhos. O que ele já sabia desde criança, era que infelizmente
não adiantaria apelar para os poderes da varinha mágica. Desesperado, recorreu
a um anuncio da internet: “trago seu amor de volta em cinco dias – serviço
garantido”. Depositou o dinheiro e ficou aguardando. Passados mais de quinze
dias, nada aconteceu. Admitiu que
houvesse sido enganado e encarou mais uma frustração. Perdeu o dinheiro e a
menina amada.
Será que David foi
enganado ou ele próprio se enganou? Uma
varinha ou um benzedeiro seriam as soluções mais adequadas de seus
anseios? Para muitas pessoas é assim que
funciona. É mais fácil transferir a responsabilidade para outros ou para algo e
ficar esperando que a mágica aconteça.
Enquanto se espera, nada acontece. Pode até acontecer, mas o
protagonista não será David e provavelmente não aconteça do jeito que ele
esperava.
Seu outro herói, David, o
rei de Israel, não ficou esperando. Encarou o gigante Golias. Não se
amedrontou, não pediu ajuda, confiou em si e venceu o inimigo. Partiu dele a
iniciativa da mágica e o milagre aconteceu.
Muito se espera da
chegada de um novo ano. Ano novo, vida nova, dizem os comerciais de televisão.
Ainda mais 2020, que será um ano bissexto. Queria realmente acreditar nisso. Só
que não, a virada do ano funciona como a varinha mágica, se não tiver um mágico
por trás, alguém que faça acontecer, não vai funcionar. Não se iluda, 2020 não
funciona como um recomeço, é apenas a contagem artificial do tempo, uma mudança
na folha do calendário. Erros e acertos em nossas vidas vêm se alternando desde
sempre e, se Deus quiser, devem continuar na virada do ano.
Muita coisa nova deve
acontecer em 2020, inúmeras oportunidades surgirão. Outras tantas serão
perdidas. Quem será o roteirista destas mudanças? Varinha mágica? Benzedeiro?
Vidente? Destino? Astros? Amigos? Amores? Família? 2020?
*Dr. Ildo Meyer
Médico. Escritor.
Palestrante. Filósofo Clínico.
Porto Alegre/RS
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