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Anotações e reflexões de um filósofo clínico*



Ao lermos os diários e as correspondências de líderes políticos, de militares do alto escalão e de escritores e intelectuais, percebemos que os grandes acontecimentos da História quase nunca são públicos - ao contrário: quase sempre são eventos privados, frutos de encontros, sentimentos pessoais e circunstâncias que em nada prenunciavam aquilo que posteriormente viria a ser reduzido a "fatos históricos" descritos em manuais.

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A História escrita, em todas as suas escolas, é a História institucional.

Ela captura somente a superfície dos eventos.

Mas é incapaz de descrever o tecido de relações pessoais e percepções privadas que rege os caminhos da humanidade.

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Para completar: com uma grande freqüência, as personagens principais e os verdadeiros eventos decisivos da História permanecem completa e irremediavelmente subestimados, desprezados ou ignorados.

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Dito isso tudo, resta a conclusão à moda de Vaihinger: praticamente tudo o que tomamos como a História não passa de ficção social e política, em que as únicas descrições aproximadamente verdadeiras - que são os relatos institucionais da promulgação de leis, de decisões judiciais, de sucessões políticas, de resultados de batalhas - são justamente as menos relevantes para compreender não só um momento histórico específico, mas também a construção do caminho que nos levou até aqui.

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Em alguma medida, isso vale também para a história pessoal de cada um de nós.

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Como pôr em marcha a liberdade do pensamento?

O primeiro passo precisa ser um "não": a recusa completa dos meios de escravização intelectual.

Em outras palavras: é preciso abandonar inteira e imediatamente o hábito de assistir à televisão, de ouvir o rádio, de ler os jornais e as revistas semanais - que são os instrumentos pelos quais outras pessoas nos indicam sobre o que e como devemos pensar. A mídia é, a rigor, um cabresto do pensamento: força-nos a despender a nossa energia intelectual e o nosso tempo meditando sobre o que de outro modo não nos interessaria em absoluto.

Em lugar disso, é preciso ler - sobretudo livros! -, conversar e refletir justamente sobre aquilo que nos parece interessante e valioso: é preciso escolher, com autonomia, como utilizaremos a nossa inteligência e o nosso tempo.

A vida é curta e difícil demais para perdermos tempo e energia com o que os outros querem que achemos importante.

*Prof. Dr. Gustavo Bertoche
Filósofo. Escritor. Musicista. Educador. Filósofo Clínico. 
Teresópolis/RJ

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