Não fazer do mundo uma
extensão de minhas interpretações. Este é um imperativo intrínseco à Filosofia
Clinica. Não vamos encontrar isso nos cadernos de estudos nem nas aulas. Isso é
um aprendizado da prática.
Compreender a Filosofia
Clinica na prática é admirar o mundo, as pessoas, as coisas, as situações, sem
querer dar a nossa solução ou interpretação para tudo.
A Filosofia Clinica nos
ensina como as pessoas podem nos falar de si mesmas. Sem interpretá-las, nós
aprendemos delas sobre elas. Reconhecemos diretamente da fonte. Interpretações
são secundárias. Afinal é melhor ler uma obra do que o comentador dela.
Entrar no universo
significativo do outro é abandonar, por momentos, meu próprio universo, ainda
que em parte. A recíproca de inversão, ato de ir ao mundo significativo do
outro, é um exercício nem sempre tão fácil.
As significações são
tantas, e algumas podem nos confrontar com valores e modos de viver totalmente
opostos aos nossos. Do mesmo modo outro risco pode surgir com a identificação
com o mundo do outro, a ponto de chegar a esquecer de continuar aprofundando no
que ele diz, e acabar por ficar inversivo, buscando em si e não no partilhante,
as respostas para as questões existenciais dele.
A clínica filosófica é um
desafio. Não se encontram outros meios para resolver as questões existenciais
do outro do que nele mesmo. Não há livros com respostas ou lista de
diagnósticos possíveis. Cada partilhante é um caso a ser diagnosticado, sem
precedentes.
As seguranças são
deixadas de lado. Tira-se a sandália dos pés para adentrar no solo sagrado que
é o outro. Não há nada prévio a não ser o fato de o partilhante estar em busca
de algum tipo de ajuda, o que também pode não acontecer. A partir daí, tudo é
surpresa e novidade.
*Prof. Dr. Miguel Angelo
Caruzo
Filósofo. Escritor.
Filósofo Clínico.
Teresópolis/RJ
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