Você já teve contato com
bruxas? Tive vários. Algumas usaram a vassoura pra varrer e logo em seguida
partiram, outras voaram comigo por muito tempo. Algumas purificaram minha alma,
outras lançaram feitiços, outras me encantaram. Talvez você não acredite em
bruxas, mas que “las hay, hay”.
Antigamente eram
queimadas vivas, hoje a era das fogueiras acabou, e as netas daquelas que
sobreviveram estão mais vivas que nunca, espalhadas por todos os cantos,
queimando todas as regras.
Numa pesquisa
aparentemente inocente, pediram a vários homens que fizessem uma escolha
delicada. Suas companheiras seriam doze horas por dia bruxas e nas outras doze horas, princesas.
Metade do dia elas teriam pele enrugada, cabelos desalinhados, mau cheiro,
verrugas no nariz, falta de dentes, comportamento estranho, marcas de nascença,
cicatrizes e tudo mais que caracterizasse uma bruxa clássica. Na outra metade
teriam pele sedosa, cabelos lindos, bem tratados, corpos esculturais, olhos da
cor azul piscina, cheiro adocicado de mel. Mais ainda, seriam carinhosas, super
inteligentes, bem educadas e amorosas. A princesa de todos os contos de fada.
A versão moderna da
pesquisa pensou em incluir corpos tatuados, piercings nas sobrancelhas e
mamilos, contra cultura, roupas rasgadas, mas não sabia se estas
características se encaixariam em princesas ou bruxas do século vinte e um. Por
via das dúvidas, com o intuito de não confundir a cabeça dos homens e a
seriedade do estudo, foram deixadas de lado.
Aqueles que escolhessem
princesa durante o dia e bruxa à noite, teriam o reconhecimento de toda a
comunidade do privilégio único de conviver matrimonialmente com uma mulher
graciosa, linda, elegante e gentil, mas na intimidade da noite, na privacidade
do lar, estariam na companhia abominável da bruxa. Os que preferissem o
inverso, acolheriam a graça da princesa
ao cair da noite e entregariam a crueldade da bruxa para a comunidade maldizer
durante o dia.
A maioria dos homens
respondeu que estava se lixando para a comunidade e escolheria ficar se deliciando
com a princesa à noite, quando retornassem para casa. Alguns até tentaram
negociar em termos de horas ou modelos diferentes de escolha, foram eliminados
da amostragem. Poderia utilizar esta pesquisa como introdução para falar sobre
postagens no facebook, instagram, sentimento de posse, autoestima ou opinião
alheia. Não é este o foco. Também gostaria de colocar que talvez a pergunta
inicialmente possa parecer machista, mas basta inverter os papéis e seguimos
com a mesma linha de raciocínio.
A maioria escolheu ficar
com a princesa na intimidade, ignorando a opinião dos outros. Será que é assim
mesmo que funciona? Quantos casais permanecem juntos por aparência ou
conveniência, discutindo e se odiando
vergonhosamente entre quatro paredes e
hipocritamente se apresentando como príncipes e princesas na sociedade?
Em cada mulher vive um
anjo, uma princesa, uma bruxa, um demônio. O homem terá aquela que despertar.
Se tratar a mulher como rainha, certamente será um rei. Uma bruxa nunca
consegue ser perfeita num disfarce de princesa. Nem um lobo é convincente em
pele de cordeiro. Coloque-os à prova e
todos falharão, irremediavelmente.
Quer ter uma princesa a
seu lado? Trate-a como tal. Se a tratar como bruxa, você é que se transforma
num sapo. Lembra daquela história da princesa que ao beijar um sapo o
transforma num príncipe?
A dúvida que vai intrigar
a opinião alheia ao ver uma bruxa e um príncipe felizes lado a lado, repousará
sobre qual feitiço aquela bruxa fez para conquistar o amor do príncipe. O que
ele viu naquela bruxa? Qual poção mágica ela utilizou naquela maça encantada?
Vão morrer de inveja e curiosidade. Antes uma bruxa com atitude que uma bela
adormecida.
*Dr. Ildo Meyer
Médico. Escritor.
Palestrante. Filósofo Clínico.
Porto Alegre/RS
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