"Em seu ser atual, as palavras, acumulando sonhos, fazem-se realidades"
Gaston Bachelard
Uma só expressão pode conter a pluralidade indescritível de significados. Parece uma propriedade especial, essa aptidão de multiplicar-se para acolher a diversidade existencial em cada um.
É improvável ser o dicionário de sinônimos e antônimos o guardião de todas as possibilidades para acessar suas variáveis discursivas. O território mutante da singularidade aprecia resguardar-se na vontade subjetiva.
Seu esboço, a reivindicar uma chave de leitura específica, propõe qualificar o reencontro com a fonte de onde partiu. Em todo lugar, a cada instante, existe um convite para desbravar inéditos. Mesmo o antigo dialeto, recuperado pelo novo olhar, pode ser refúgio de originais. Assim, as mesmas palavras podem ser outras palavras.
O encontro da expressividade com a intenção do autor delimita seu sentido inicial. Aqui não se busca o transbordamento do dizer, senão o recuo a um ponto de partida. A invisibilidade desse direcionamento, entre as primeiras e últimas declarações, protege a estrutura de pensamento da pessoa.
Por outro lado, suas derivações podem oferecer alternativas existenciais, qualificar a emancipação pessoal em seus rascunhos. Um conteúdo assim descrito pode ficar inexplicável até alguma tradução. Talvez o ajuste das velhas lentes consiga evidenciar a multidão de possíveis na palavra desconsiderada.
Ao sentir-se deslocada em determinado contexto, a nova percepção aprecia transcrever-se noutras direções. Nesse sentido, a distorção do termo pode ressignificar seu uso, o qual, ao atingir o teto de suas possibilidades num lugar, consegue reapresentar-se noutro, fundar uma nova república das letras.
*Hélio Strassburger in "A Palavra Fora de Si - Anotações de Filosofia Clínica e Linguagem". Ed. Multifoco. RJ. 2017.
**Filósofo Clínico não filiado a Anfic.
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