Pular para o conteúdo principal

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Dom Juan havia-me repetido que os guerreiros vivem com a morte ao lado, e do conhecimento de que a morte está com eles retiram a coragem para enfrentar qualquer coisa. Ele dissera que o pior que nos pode acontecer é termos que morrer, e já que esse de qualquer modo é nosso destino inalterável, somos livres; aqueles que perderam tudo, nada mais têm a perder" 

"Eu lhe expliquei que os novos videntes pretendem ser livres. E a liberdade tem as implicações mais devastadoras. Entre elas, está a implicação de que os guerreiros devem procurar deliberadamente a mudança. Já a sua predileção é viver da maneira como vive. Você estimula sua razão, percorrendo seu inventário e comparando-o com os inventários de seus amigos. Essas manobras deixam-lhe muito pouco tempo para examinar a si mesmo e a seu destino. Terá de abandonar tudo isso. Da mesma maneira, se tudo o que conhecesse fosse a calma mortal dessa cidade, você teria que procurar, mais cedo ou mais tarde, o outro lado da moeda (...)"

"(...) a primeira atenção trabalha muito bem com o desconhecido. Ela o bloqueia; ela nega-o tão ferozmente que, no final, o desconhecido não existe para a primeira atenção"

"(...) É um dever do nagual procurar sempre maneiras melhores de explicar - replicou. O tempo muda todas as coisas, e cada novo nagual deve incorporar novas palavras, novas ideias, para descrever sua visão"

"A primeira verdade é que o mundo é como parece, e entretanto não é. Não é tão sólido e real como nossa percepção foi levada a crer, mas também não é uma miragem. O mundo é uma ilusão, como tem sido dito; ele é real por um lado, e irreal por outro. Preste muita atenção nisso, pois isso deve ser compreendido, e não simplesmente aceito. Nós percebemos. Isto é um fato concreto. Mas o que percebemos não é um fato concreto, porque aprendemos o que perceber"

"Existe uma regra muito simples. Diante do desconhecido, o homem é aventureiro. Dar-nos uma sensação de esperança e felicidade é uma qualidade do desconhecido. O homem sente-se robusto, jovial. Mesmo a apreensão que o desconhecido desperta é muito gratificante. Os novos videntes viram que o homem fica em sua melhor forma diante dele"

*Carlos Castañeda in "O fogo interior". Ed. Nova Era. RJ. 2000. 

Comentários

Visitas