Existem eventos onde é
possível antever o que ainda não é sendo. Em uma lógica a priori, nem sempre
cabível nalguma racionalidade das evidências concretas, atua como uma
premonição ou mediação sem palavras. Seu teor de caráter difuso possui algo
mais a superar o aqui_agora conhecido. Um futuro imperfeito se antecipa ao que
deveria ser.
Seu teor de anúncio
esparrama-se com os termos agendados no intelecto. Esse rumor clarividente
costuma desorganizar o chão existencial onde a vida mecânica se desenrola. Uma
série de indícios podem surgir com a visão inesperada de algo irreconhecível.
Perplexidade diante de um amanhã_agora_passando.
A maior parte desses
acontecimentos se dá na interseção entre o sujeito, suas circunstâncias
existenciais e o instante fugaz. Assim a epistemologia se parece com um
microscópio ao contrário. Sua tez se aproxima de algo a preencher uma lacuna,
até então, imperceptível de ser lacuna. A atenção busca significar essa
distorção na forma de pressentimento.
Nessa matriz subjetiva
é possível encontrar rastros de por vir. Aquilo que ainda vai chegar pode se
insinuar em sonho, pensamento, intuição, delírio. Numa operação de risco, esses
pretextos de consciência alterada escolhem a singularidade capaz de acolhê-los.
Ao mencionar essas
nuances a natureza parece ter um dialeto próprio. Essa lógica fora de si pode
emancipar esteticidades desconsideradas. No entanto, quando for plenamente
visível ao olhar das palavras bem resolvidas, já será outra coisa.
Assim pode-se arriscar
uma intuição preliminar sobre essa percepção. Um lugar de encontro de saber e
não saber. Nessa conversação de essência ainda sem existência, parece
avistar-se uma inacreditável mescla do futuro aqui_agora. Seu sentir inaugura
uma quase verdade, um pouco antes de ter visibilidade.
O evento clarividência não cabe numa ótica
habitual. Sua anormalidade se hospeda no silencio das coisas esquecidas. Talvez
sua maior ameaça seja a capacidade de rasurar fronteiras, desajustar certezas,
apontar regiões desconhecidas.
*Hélio Strassburger in “A
palavra fora de si – Anotações de Filosofia Clínica e Linguagem”.
Ed. Multifoco. RJ. 2017.
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