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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"A escola foi para Holderlin uma prisão; cheio de impaciência e ao mesmo tempo tímido, entra agora bruscamente no mundo, nesse mundo que sempre lhe parecerá estranho (...) só conhece uma vocação: a de mensageiro de um mundo superior"

"Como sempre, o heroísmo de um homem encontra o maior perigo nos seres que mais o estimam; os que o amam tratam de acalmar essa tensão dolorosa, e bondosamente sopram sobre o fogo sagrado para reduzi-lo às comodas proporções de uma modesta chama de lar doméstico"

"Nenhum poeta alemão teve tanta fé na poesia e na sua origem divina como Holderlin; ninguém proclamou, como ele, a divisão absoluta que separa a poesia das coisas do mundo"

"Para ele, crente fiel, o mundo divide-se em duas partes conforme o conceito grego de Platão: acima estão os imortais, bem aventurados e nimbados de luz, inacessíveis a nós, e sem dúvida, participando de nossa existência. Embaixo está a massa obscura dos mortais, jungidos à triste roda da vida quotidiana"

"(...) o poeta (...) se interpõe entre os deuses e os homens e é chamado a contemplar a divindade para apresentá-la depois aos homens em imagens terrenas. O poeta origina-se do humano, mas serve ao divino"

"O poeta está sempre em perigo porque luta com forças que não conhecem freio. É como um para-raio solitário que recolhe toda a exalação trêmula do infinito, e esse fogo celeste que recolhe o apresenta, envolto em música, aos habitantes da terra"

"(...) seus versos são inquietos, errantes, como nuvens que sobem para o céu e que ora se enchem de sol, ora se escurecem de pessimismo e, às vezes, deixam escapar de repente, o raio violento e o ribombo da profecia (...) investem sempre para cima, para as regiões etéreas, sempre distantes da terra, inacessíveis aos sentidos sensíveis somente ao sentimento"

"Holderlin não transforma, como Goethe, o acontecimento em poesia; ao contrário, aquele desaparece, sem se fazer poesia, sem deixar um vestígio. Não transforma a vida em poesia - foge da vida para se refugiar nos poemas, como realidades mais certas da existência" 

*Stefan Zweig in "Os construtores do mundo - Dostoiewski, Dickens, Balzac, Holderlin, Kleist, Nietzsche". Ed. Guanabara - Waissman Koogan Ltda. RJ. 1946.

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