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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Como ser objetivo diante de um livro que se ama, que se amou, que se leu em várias idades da vida ? Semelhante livro tem um passado de leitura. Quando o relemos, não sofremos na mesma página. Não sofremos mais da mesma maneira - e principalmente já não esperamos com a mesma intensidade em todas as estações de uma vida de leitura. Podemos reviver as esperanças da primeira leitura quando sabemos agora que Féliz trairá ? As buscas em animus e em anima não dão a todas as idades de uma vida de leitor as mesmas riquezas. Os grandes livros, sobretudo permanecem psicologicamente vivos. Nunca terminamos de lê-los"

"Quem se entrega com entusiasmo ao pensamento racional pode se desinteressar das fumaças e brumas através das quais os irracionalistas tentam colocar suas dúvidas em torno da luz ativa dos conceitos bem associados"

"A imagem não pode fornecer matéria ao conceito. O conceito, dando estabilidade à imagem, lhe asfixiaria a vida"

"O devaneio nos põe em estado de alma nascente"

"(...) como pode um homem, apesar da vida, tornar-se poeta ?"

"As cosmogonias antigas não organizam pensamentos, são audácias de devaneios, e para devolver-lhes a vida é necessário reaprender a sonhar"

"Quando um sonhador de devaneios afastou todas as 'preocupações' que atravancam a vida cotidiana, quando se apartou da inquietação que lhe advém da inquietação alheia, quando é realmente o autor da sua solidão, quando, enfim, pode contemplar sem contar as horas, um belo aspecto do universo, sente, esse sonhador, um ser que se abre nele"

"Que importam para nós, filósofo do sonho, os desmentidos do homem que reencontra, após o sonho, os objetos e os homens ? O devaneio foi um estado real, em que pesem as ilusões denunciadas depois. E estou certo de que fui eu o sonhador. Eu estava lá quando todas essas coisas lindas estavam presentes no meu devaneio. Essas ilusões foram belas, portanto benéficas. A expressão poética adquirida no devaneio aumenta a riqueza da língua"

*Gaston Bachelard in "A poética do devaneio". Ed. Martins Fontes. SP. 2001.  

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