O filósofo clínico
aprende, sobretudo, a ser um bom ouvinte. Na verdade, ele aprende a “ouvir” com
todos os seus sentidos. É por meio da percepção aguçada de seu partilhante, que
ele compreende como a pessoa é e como age. É ouvindo a história de seu partilhante
que suas circunstâncias e o modo como lidou e foi afetado por ela é revelado. A
fonte de compreensão do partilhante é o próprio partilhante.
O filósofo clínico é
orientado, desde o início de sua formação, que para compreender como o
partilhante “funciona” é necessário aprender dele mesmo. Não há teorias ou
qualquer tipo de estudo estatístico que revelará mais sobre o partilhante do
que ele próprio. Aliás, quanto menos carregado de pressupostos o filósofo
clínico for, mais chances tem de compreender aquele que o procura no
consultório.
Às vezes, o terapeuta
pode traçar diversos caminhos para ajudar seu partilhante a romper com
determinados conflitos. Suas tentativas podem ter grande efeito. Mas,
surpreendentemente, o próprio partilhante surge com um movimento novo que muda
toda a situação. Esses processos de mudanças, denominados em Filosofia Clínica
de autogenias, são admiráveis. O ser humano possui grande capacidade de gerar
essas mudanças internas e externas.
A cada mudança, por
iniciativa do partilhante ou por meio da intervenção do filósofo clínico, a
informação do todo da pessoa precisa ser revisitada. Isso se dá pela colheita
dos dados atualizados e da observação do que se manteve dos dados padrões. Os
dados atualizados dizem respeito ao que aconteceu nos últimos dias ou semanas.
O dado padrão é o que se manteve da própria estrutura do partilhante ao longo
de tais mudanças. Em todo caso, o partilhante é a fonte.
Na Filosofia Clínica, o
termo partilhante traz um significado próprio. Na partilha, terapeuta e
partilhante estão no mesmo “patamar”. Não há predominância de um sobre o outro.
O filósofo clínico participa de um determinado tempo da caminhada de seu
partilhante, a fim de auxiliá-lo. Ele é um aprendiz assim como aquele que o
procura e ambos fazem uma construção compartilhada do processo terapêutico.
*Prof. Dr. Miguel Angelo
Caruzo
Filósofo. Escritor.
Filósofo Clínico. Livre Pensador.
Teresópolis/RJ
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