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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Pois cada povo em busca de si mesmo se pergunta onde se encontra o degrau intermediário entre sua casa e o mundo(...)" "É preciso realmente uma grande maturidade para compreender que a opinião que nós defendemos não passa de nossa hipótese preferida, necessariamente imperfeita, provavelmente transitória, que apenas os muito obtusos podem transformar numa certeza ou numa verdade" "A ideia de Nietzsche me vem ao espírito: é no instante de sua gênese que a essência de um fenômeno se revela" "(...) diante dos vivos, os mortos têm uma esmagadora superioridade numérica, não apenas os mortos do fim da guerra, mas todos os mortos de todos os tempos, os mortos do passado, os mortos do futuro; certos de sua superioridade, eles caçoam de nós, eles caçoam dessa pequena ilha de tempo onde nós vivemos, desse minúsculo tempo da nova Europa da qual nos fazem compreender toda a insignificância, toda a fugacidade" "(...) as inovações for

Um convite a reflexão*

Amigos, nestes anos tenho ouvido e lido profissionais liberais, magistrados, jornalistas e - pasmem - professores universitários com uma nítida dificuldade de descrever as suas intuições e percepções ou com uma evidente incapacidade de efetuar as operações lógicas mais simples. Essa dificuldade dos brasileiros com a ordenação do discurso é uma conseqüência do modelo de educação que adotamos. A nossa capacidade de escrever bem e de raciocinar corretamente tem decaído desde as reformas educacionais do regime militar - reformas que baniram do currículo escolar, em nome da "formação para o trabalho", os estudos clássicos e a filosofia (e, com ela, o estudo da lógica). É fácil atestar essa decadência: basta visitar uma livraria e buscar um romance de qualquer escritor brasileiro contemporâneo. Raríssimos são os casos em que o texto não é de uma vulgaridade estrutural e vocabular que seria considerada inadmissível na redação de um ginasial dos anos 1950. Ou seja: te

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"A palavra poética jamais é completamente deste mundo: sempre nos leva além, a outras terras, a outros céus, a outras verdades. A poesia parece escapar à lei da gravidade da história porque sua palavra nunca é inteiramente histórica. A imagem nunca quer dizer isto ou aquilo. É antes o contrário, como se viu: a imagem diz isto e aquilo ao mesmo tempo. E até: isto é aquilo"  "O surrealismo se propõe a fazer um mundo poético, fundar uma sociedade em que o lugar central de Deus ou da razão seja ocupado pela inspiração" "(...) O sujeito também desaparece: o poeta se transforma em poema, lugar de encontro entre duas palavras ou duas realidades" "O ato de escrever poemas se oferece ao nosso olhar como um nó de forças contrárias, no qual a nossa voz e a outra voz se enlaçam e se confundem. As fronteiras ficam imprecisas: nosso discurso se transforma insensivelmente em algo que não podemos dominar totalmente; e nosso eu dá lugar a um pronome i

Observador da sacada*

“Adorava poder mostrar-lhe o filme, mas, por outro lado, sei que tem outras coisas na cabeça.”                                                   (Win Wenders sobre o Papa Francisco) Ainda procura ver os rostos, nada pessoal, ele ainda busca enxergar todos em sua individuação, a captura do anonimato é a imagem oca, ele busca ver os olhos dos anônimos. As imagens confundem o centro, rasga os lados, alarga os braços, entorna o vinho sobre o mundo, Ele procura os olhos, ausculta o som do mundo. Ele vigia os sentidos, vê a face do desconhecido, os olhos na multidão é como o tempo que não tem dimensão única, interminável aos olhos a imagem-tempo. Ele ainda vê tudo como observador privilegiado, o mundo não muda, mãos que matam mudam. Ele busca o movimento da humanidade, a contínua ida ao desconhecido do Ser, procura o olhar que retorna em sua finitude. Ele é o observador do que se esgota, do tempo que permanece movente, percebe o transmutar e o que permanece in

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) a leitura e a vida são tão estreitamente vinculadas que pouco interessa diferenciar o que pertence ao leitor do que pertence ao escritor. A leitura, ao inspirar a vida interior, instaura um processo terapêutico discreto, cujo poder talvez não consigamos medir" "O livro é fruto de um trabalho análogo ao do sonho" "(...) e nossa sede de palavras, de elaboração simbólica, é tamanha que, com frequência, imaginamos assistir a esse retorno de um conhecimento sobre nós mesmos surgindo sabe-se lá de que estranhas fontes, redirecionando o texto lido a nosso bel-prazer, encontrando nele o que o autor nunca teria imaginado que havia colocado" "Não é somente um reconhecimento de si que a literatura permite, mas uma mudança de ponto de vista, um encontro com a alteridade e talvez uma educação dos sentimentos" "(...) reelaboração da história pessoal, um desenvolvimento das capacidades de expressão, mudanças de pontos de vista,

O segredo e a poesia*

"Me entregue um segredo seu pra eu guardar..." Versos segredáveis são a alma da real poesia... Você, segredo encarnado que ancorou no meu cais de partida... "Três palavras, um só segredo mulher, madrugada e banheira..." Petit mort, et maintenant ! "Desir, noir, Le vent, L'au..." Preâmbulo de castiçais ao vento matutino cheirando a verbena... Seus olhos são negras lanças, dissecando minha flor em labareda, "Sua voz cântico fluido que me umedece a boca... pour la premiere fois sua entreaga me surpreendeu Lapsos febris com essa imagem" Monsieur de la vie du desir... Cantei pra um anjo caído e seus olhos de caos e cachos banhando em alta noite minha tez vaidosa e voz de criança perdida de sapatos trocados e ares de quem não foi chamada... Conduzida pelo próprio algoz àquela linda e pequena morte... Ferida ainda aberta e pousei minha dor no bálsamo de sua penumbra virulenta de verso, ci

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Quando penso em amigos meus tão caros como Dom Quixote, o Sr. Pickwick, o Sr. Sherlock Holmes, o Dr. Watson, Huckleberry Finn, Peer Gynt... (não estou certo se tenho muito mais amigos), sinto que as pessoas que escreveram suas histórias estavam 'contando história', mas que as aventuras elaboradas eram espelhos, adjetivos ou atributos daquelas pessoas" "Suponho que haja tantos credos, tantas religiões, quantos são os poetas" "Lembrando as falas do pai, citando Keats: '(...) Não nasceste para a morte, Pássaro imortal!; Nenhuma geração faminta te espezinha; a voz que ouço nessa noite fugaz foi ouvida; nos dias antigos por imperador e palhaço: Talvez a mesmíssima canção que se insinuou, pelo triste coração de Rute, quando, saudoso de casa; Ela se desfazia em lágrimas entre o milharal alheio'" "Suspeitei muitas vezes que o sentido é, na verdade, algo acrescentado ao verso. Tenho plena convicção de que sentimos a beleza de

Uma epistemologia dos subúrbios*

“A vida não é senão uma procissão de sombras, e sabe Deus por que as abraçamos tão avidamente e as vemos partir com tal angústia, já que não passam de sombras”                                                           Virgínia Woolf A natureza também insinua seus originais na impermanência de um talvez. Instantes em que a conexão propõe a novidade discursiva ao sem rosto das aparências. Assim, para além da mentira civilizada, outras verdades ensaiam inéditas versões. Nem sempre em busca de tradução, essa característica existencial realça pontos de interseção com universos absurdos. Seu sentido inédito, antes de ser provável, descreve-se na escassez poderosa de um quase. Seu dizer marginal aparece como vontade de transgressão. Com sua pronúncia irreconhecível a escuta muda, e o momento fugaz dos achados carece a surgir distorcido. Ao ter o anonimato preservado, se distancia das ingerências de ser igual. Sua indeterminação sugere um vocabulário por chegar. Na crític

O livro sobre nada*

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez. Tudo que não invento é falso. Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira. Tem mais presença em mim o que me falta. Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário. Sou muito preparado de conflitos. Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou. O meu amanhecer vai ser de noite. Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção. O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo. Meu avesso é mais visível do que um poste. Sábio é o que adivinha. Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições. A inércia é meu ato principal. Não saio de dentro de mim nem pra pescar. Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore. Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma. Peixe não tem honras nem horizontes. Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando nã

Mestres aprendizes*

Desejo intenso pulsa em compartilhar o aprendido... Mestres, mais que ensinam, despertam o saber/fazer. Aprendem juntos, trocam experiências. No espanto frente ao tudo sabem que nada sabem. São parteiros de ideias, tiram pérolas dos alunos, estes sim, sábios. Guerreiros, não buscam o poder, mas a humildade de servir. Todos são mestres, Bastou nascer para ir trocando vivências, sonhos, ciências e poesias. Magos, feiticeiros, cientistas, filósofos, poetas, peregrinos... Doadores despertam, instigam. Com ou sem salários cumprem sua missão de agradecer o aprendido e fazer multiplicar. Seu dia não é apenas hoje. Todos os dias são dias de no exercício existencial partilhar com carinho e afeto. Mestres são aqueles que não guardam para si. Tentam fazer do mundo o melhor dos lugares. São companheiros de jornada que acreditam que É possível! *Dra. RosângelaRossi Psicoterapeuta. Astróloga. Escritora. Artista Plástica. Radialista. Fil

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) Método - É preciso compreender este termo em seu sentido mais estrito: o de um 'encaminhamento'. Não que esses trabalhos indiquem com segurança uma via já traçada, mas - melhor ainda - indicam uma orientação, fornecem elementos cartográficos e, principalmente, oferecem orientações para empreender-se o percurso"  "Ao nomear, com excessiva precisão, aquilo que se apreende, mata-se aquilo que é nomeado. Os poetas nos tornaram atentos a tal processo" "Do momento em que há vida, há labilidade, dinamismo. A vida não se deixa enclausurar. Quando muito é possível captar-lhe os contornos, descrever-lhe a forma, levantar suas características essenciais" "(...) estar atento a uma lógica do instante, apegada ao que é vivido aqui e agora. Tal lógica do instante nada mais tem a ver com a vontade racionalista que pensa poder agir sobre as coisas e as pessoas. Ela é muito mais tributária do acaso, de um acaso que ao mesmo tempo é neces

Ponto de vista*

Qual é a causa profunda desta situação na qual tanto a direita quanto a esquerda perderam a capacidade de compreender o outro? Em outras palavras: por que as elites políticas não mais são capazes de acessar o mundo do brasileiro trabalhador? Para mim, amigos, a resposta está, em primeiro lugar, na falência do sistema educacional brasileiro. Essa falência foi causada, em parte, pela desastrosa reforma educacional estabelecida pelos militares em 1971, que aboliu de vez o ensino clássico, tornando compulsório, no segundo grau, o ensino "para o trabalho" em todas as escolas públicas e particulares. Como conseqüência dessa reforma, as gerações formadas no Brasil após os anos 70, independentemente da formação acadêmica que alcançam – do fundamental ao pós-doutorado –, podem vir a ser escolarizadas, mas não se tornam cultas; podem ser instruídas, mas não são refinadas. E é o refinamento humanista que torna possível ouvir e compreender as palavras da diferença e, com elas, en

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