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Ler e escrever como terapia*

Os caminhos para se chegar a uma melhor condição de bem-estar subjetivo são tão diversos quantos são os indivíduos. Para alguns, conversar semanalmente com o terapeuta é o melhor dos caminhos. Para outros, a alma sorri mesmo é com uma boa conversa jogada fora junto daqueles amigos sinceros que dizem coisas bonitas com a mesma naturalidade com que convidam a refletir sobre as falhas e fissuras no seu jeito de ser e existir. Tão bem faz, igualmente, para algumas pessoas, a prática da fé e da espiritualidade, ou da solidão momentânea, para ficar de encontro com seus próprios pensamentos, com seus próprios sentimentos. A lista é infindável: brincar com os netinhos, tomar chimarrão na praça, paquerar ao pôr do sol, cozinhar para o amor da sua vida, cuidar de plantas e jardins... Tudo isso faz bem, gera prazer e satisfação em viver, para muitas pessoas. Para um sem número de sujeitos, porém, existe um método que historicamente se estabeleceu como charmoso para retratar das dores e al

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) Fernando Pessoa. Não deixa de ser um curioso destino para um escritor pouco reconhecido em sua época, de obra intimista e sem nenhuma vocação popular (...) gosta de um tom metafísico-surrealista que não está sem dúvida, ao alcance da grande maioria" "(...) revela que dentro de nós existem muitos homens. Que poderíamos dizer, como o demônio do Evangelho, que nosso nome é legião e que somos muitos (...)" "Na casa Museu de Fernando Pessoa contamos com a companhia de Inés Pedrosa, sua diretora. Ela se ofereceu para colaborar conosco e ajudar-nos a resolver algumas das muitas dúvidas que temos sobre essa figura tão enigmática que passou a vida mudando de endereço" "Lisboa deve a Pessoa o fato de ter ingressado na literatura universal transformada em uma cidade simbólica, como a Paris de Baudelaire, a Praga de Kafka ou a Dublin de Joyce" "A loucura de Virginia Woolf, unida a seu gênio criativo, é um assunto muito longo.

O tempo das águas*

“[...] em virar a cabeça para ver as trilhas que foram percorridas; é um produto da reflexidade.” Paul Veyne Como já dizia o pensamento: O dia nublado fecha os olhos dos que não sonham. O dia abre a mente dos sonhadores. Entregue ao tempo a recusa do medo atroz, e o desejo desfaz a solidão do medo arrebatador. O dizer nas águas que bate forte, o sopro do dia, o vento que destrói a longa jornada do tempo. Depois de tudo, o corpo em frente ao rio sem fim, tal qual guerreiro no despertar da vida, mesmo sabendo da morte, enfrenta a escuridão do ódio contra o que se refugia no pátio abandonado dos tempos sombrios. O corpo se mantém lá. Parado. O pensamento a voar, dor e o frio tocam a música da infância abandonada no rio de águas pesadas. O corpo retesado, na vertical da vida, os braços em movimentos, frágeis e decididos. A dor é o devaneio que toma conta de todos esses anos que aos poucos desfalecerá na idade. Logo o pensar: eleva tudo e todo pen

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Vivemos de perdas e ganhos. Drummond dirá falando heracliticamente: 'ganhei (perdi) meu dia'. Como ganhar sem perder? Nada se ganha sem que a perda abra espaço a novas aquisições. Não poderíamos beneficiar-nos de novas águas, se pretendêssemos beneficiar-nos de novas águas, se pretendêssemos reter as que já temos" "(...) Rios somos também nós, as ideias que vêm e que vão, o fluxo das experiências, a vida que se renova todos os dias como o sol" "(...) a luz do dia, por estimular a percepção sensorial, prejudica o pensamento, quem deseja saber frequenta a sombra para se avizinhar do que escapa da avidez dos sentidos" "Heráclito tem predileção por fenômenos insólitos. Seduzido pelo mistério, nada lhe escapa, nem fatos aparentemente absurdos" "O filósofo, como os heróis legendários, afronta as portas vedadas aos viventes (...)"  "Heráclito suspeita do que se expõe à observação. Prefere as sombras, porq

Reflexões e considerações filosóficas*

Todo filósofo tem erros e acertos em seu pensamento. Por isso, é importante reconhecer a falibilidade do filósofo com o qual você mais se identifica ou estuda. Pois, corre-se o risco de ser levado por suas ideias e deixar passar seus erros no emaranhado de acertos que apresenta. Um filósofo não costuma ser um bom historiador da filosofia. Costuma-se dizer que um filósofo não é um bom professor. Pode ser que isso não se aplique a todos. Mas, é certo que todo filósofo tende a apresentar suas teses principais em qualquer reflexão que faz. Desse modo, por mais que queira ser "neutro", há o risco de interpretar os demais filósofos a partir de suas teses -- o que quase sempre ocorre. A melhor maneira de conhecer o pensamento de um filósofo é buscando ler seus próprios textos. A leitura de bons comentadores também ajuda bastante -- às vezes, havendo possibilidade, é imprescindível. É claro que comentadores também trazem suas tendências interpretativas, mas, sem dúvida, s

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) é indispensável perdermos o hábito de só ouvir o que já compreendemos" "(...) O delirante pensa e pensa mais do que qualquer um. Mas nisso ele fica sem o sentido dos outros. Ele é um outro sentido (...) O desprendido é delirante porque está a caminho de outro lugar" "O estranho está em travessia. Sua errância não é porém de qualquer jeito, sem determinação, para lá e para cá. O estranho caminha em busca do lugar em que pode permanecer em travessia. 'O estranho' segue, sem quase dar-se conta, um apelo, o apelo de se encaminhar e pôr-se a caminho do que lhe é próprio" "A poesia de um poeta está sempre impronunciada. Nenhum poema isolado e nem mesmo o conjunto de seus poemas diz tudo. Cada poema fala, no entanto, a partir da totalidade dessa única poesia, dizendo-a sempre a cada vez" "(...) Queremos ao menos uma vez chegar no lugar em que já estamos" "(...) Uma compreensão de mundo assim orienta

Fragmentos Discursivos, Filosóficos*

A ideia de que é possível ter uma visão neutra e objetiva da realidade parece-me ilusória. Há sempre quem observa, quem descreve, quem pensa essa realidade. Inclusive, conhecê-la já é um ato realizado por um alguém. Um alguém delimitado físico, psicológico, cultural e historicamente. Mesmo a descrição mais "neutra e objetiva" possível dessa realidade requer quem a interprete. Aliás, a própria descrição já é algo pretendido por um quem, por alguém. Pois a realidade em si simplesmente é. A partir do momento em que ela é contemplada, experienciada ou investigada, passa a ser uma realidade para ou a partir de quem realiza essa apreciação. (...) Se para compreender Heidegger, eu precisasse ler todas as principais obras que o influenciaram ou das quais ele tirou seus pressupostos, teria que viver em função de seguir os passos bibliográficos dele. O mesmo vale para os principais filósofos da história. Os filósofos criticaram as obras de seus pares a partir do que produziram

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Como ser objetivo diante de um livro que se ama, que se amou, que se leu em várias idades da vida ? Semelhante livro tem um passado de leitura. Quando o relemos, não sofremos na mesma página. Não sofremos mais da mesma maneira - e principalmente já não esperamos com a mesma intensidade em todas as estações de uma vida de leitura. Podemos reviver as esperanças da primeira leitura quando sabemos agora que Féliz trairá ? As buscas em animus e em anima não dão a todas as idades de uma vida de leitor as mesmas riquezas. Os grandes livros, sobretudo permanecem psicologicamente vivos. Nunca terminamos de lê-los" "Quem se entrega com entusiasmo ao pensamento racional pode se desinteressar das fumaças e brumas através das quais os irracionalistas tentam colocar suas dúvidas em torno da luz ativa dos conceitos bem associados" "A imagem não pode fornecer matéria ao conceito. O conceito, dando estabilidade à imagem, lhe asfixiaria a vida" "O d

O segredo das palavras*

A espécie de texto que se tem em mente é uma singularidade. Sua estrutura pressupõe a conjugação, nem sempre linear, entre o horizonte discursivo do autor e sua competência em transgredir as páginas conhecidas. Um peregrino das palavras em busca da fonte onde nascem as intencionalidades.      Com o vocabulário comum, em alguns casos, será possível realizar aproximações, noutros sequer tangenciar as origens da expressividade: os exílios, desvãos, derivações. Ao transcrever esses conteúdos, na parcialidade de um texto qualquer, é possível entender porque seus segredos não são decifrados por inteiro. Ao se dar o processo da escritura, sua concepção descreve algo mais, tendo como ponto de partida uma mente repleta de vírgulas, devaneios criativos, irreflexões. Esses escritos nem sempre serão compreendidos a primeira vista. Seus deslizes, lacunas e desestruturas anunciam algo por vir. São vestígios daquilo que não se consegue dizer num primeiro instante. Uma estrutura assim pen

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Qualquer nova interpretação da natureza, seja ela uma descoberta, seja uma teoria, aparece inicialmente na mente de um ou mais indivíduos. São eles os primeiros a aprender a ver a ciência e o mundo de uma nova maneira (...)" "Sua habilidade para fazer essa transição é facilitada por duas circunstâncias estranhas à maioria dos membros de sua profissão. Invariavelmente tiveram sua atenção concentrada sobre problemas que provocam crises. Além disso, são habitualmente tão jovens ou tão novos na área em crise que a prática científica compromete-os menos profundamente que seus contemporâneos à concepção de mundo e às regras estabelecidas pelo velho paradigma" "(...) Dado que os novos paradigmas nascem dos antigos, incorporam comumente grande parte do vocabulário e dos aparatos, tanto conceituais como de manipulação, que o paradigma tradicional já empregara. Mas raramente utilizam esses elementos emprestados de uma maneira tradicional. Dentro do novo par

O Viajante*

“Tudo isso é a passagem aos nossos olhos. E nada disso ela foi outrora.” Walter Benjamin Um amor além desta cidade, O verão queima as casas, os telhados brilham, Um amor além deste lugar, A vida é mais que um prato à mesa, É a fome dos fantasmas que vivem nesta cidade. Um verão a mais na vida dos meus planos, Depois desta cidade não existe mais um lugar para morar sozinho. Um amor além desta cidade só com você, Lá na beira do Sena, irei plantar meu sonho, Ele nunca morreu, irei catar lixo para sobreviver de amor. Irei morar em baixo da ponte para pagar o teu doce preferido, um amor além desta cidade é preciso. Vamos envelhecer longe daqui, que ninguém nos ouça: Vamos embora quando findar o dia, o avião não espera ninguém. Partimos! *Prof. Dr. Luis Antonio Gomes Filósofo. Editor. Poeta. Livre Pensador. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"A palavra poética jamais é completamente deste mundo, sempre nos leva mais além, a outras terras, a outros céus, a outras verdades" "O poema é uma obra sempre inacabada, sempre disposta a ser completada e vivida por um leitor novo" "O poema nos faz recordar o que esquecemos: o que somos realmente" "Condenado a viver no subsolo da história, a solidão define o poeta moderno. Embora nenhum decreto o obrigue a deixar sua terra, é um desterrado" "Não é tanto a criação de poemas que o surrealismo se propõe, mas a transformação dos homens em poemas viventes" "A contradição do diálogo consiste em que cada um fala consigo mesmo ao falar com os outros; a do monólogo em que nunca sou eu, mas outro, o que escuta o que digo a mim mesmo" "O homem é o inacabado, ainda que seja cabal em sua própria inconclusão; e por isso faz poemas, imagens nas quais se realiza e se acaba, sem acabar-se nunca de todo. Ele m

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