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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Vivemos de perdas e ganhos. Drummond dirá falando heracliticamente: 'ganhei (perdi) meu dia'. Como ganhar sem perder? Nada se ganha sem que a perda abra espaço a novas aquisições. Não poderíamos beneficiar-nos de novas águas, se pretendêssemos beneficiar-nos de novas águas, se pretendêssemos reter as que já temos"

"(...) Rios somos também nós, as ideias que vêm e que vão, o fluxo das experiências, a vida que se renova todos os dias como o sol"

"(...) a luz do dia, por estimular a percepção sensorial, prejudica o pensamento, quem deseja saber frequenta a sombra para se avizinhar do que escapa da avidez dos sentidos"

"Heráclito tem predileção por fenômenos insólitos. Seduzido pelo mistério, nada lhe escapa, nem fatos aparentemente absurdos"

"O filósofo, como os heróis legendários, afronta as portas vedadas aos viventes (...)" 

"Heráclito suspeita do que se expõe à observação. Prefere as sombras, porque é aí que a vida se esconde"

"Heráclito dispõe-se a dizer como as coisas são, desfeito o véu da noite que as revestia. Os que o ouvem devem contentar-se, entretanto, com uma exposição lenta, visto que o expositor não apresenta como os aedos fatos concluídos. Heráclito expõe as coisas à medida que as descobre. Mesmo assim, não as dá como prontas. Para acompanhar a exposição cada ouvinte terá que rever o que lhe é mostrado. Os resultados da investigação de homens que despertam só tocam a despertos. O método é revolucionário: em lugar do passado, o presente, investigação em lugar de cantos conclusivos, tarefa em andamento de que se ignora o fim"

*Donaldo Schuler in "Heráclito e seu (dis)curso". Ed. L&PM Pocket. Porto Alegre/RS. 2000.

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