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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Procedimento inovador, raro, sustentado contra uma prática majoritária (a da significação), o sentido obtuso surge, fatalmente, como um luxo, uma despesa sem retorno; esse luxo ainda não faz parte da política de hoje, mas já faz parte da política do amanhã"

"(...) o sentido óbvio é temático: existe um tema, o sentido obtuso aparece e desaparece, é seu único movimento; esse jogo de presença/ausência desintegra o personagem, reduzido a um simples conjunto de facetas (...)"

"É evidente que o sentido obtuso é a própria contra narrativa; disseminado, reversível, preso à sua própria duração, pode apenas inaugurar outro corte, diferente daquele dos planos, sequências e sintagmas: um corte desconhecido, antilógico e, no entanto, 'verdadeiro'"

"Sentidos obtusos existem, não em todo lugar (o significante é coisa rara, representação de futuro), mas em algum lugar (...) em uma certa maneira de ler a vida"

"Há em cada pessoa, uma pluralidade, uma coexistência de léxicos; o número e a identidade desses léxicos formam o idioleto de cada um"

"(...) dizer o contrário sem renunciar ao que se contradiz (...)"

"Mudar o nível de percepção: trata-se de um choque que abala o mundo classificado, o mundo nomeado (o mundo reconhecido) e, por conseguinte, libera uma verdadeira energia alucinatória (...) ao tentar produzir a outra coisa que está na coisa, subverte toda uma epistemologia: a arte é esse trabalho ilimitado que nos liberta de uma hierarquia corrente (...)"

"(...) Ora, é mais ou menos o que ocorre na cura analítica: a própria ideia de 'cura', inicialmente muito simples, transforma-se, torna-se distante: a obra, como a cura, é interminável: trata-se, em ambos os casos, menos de obter um resultado do que modificar um problema, isto é, um tema: livrá-lo da finalidade em que se encerra seu início" 

*Roland Barthes in "O óbvio e o obtuso". Ed. Nova Fronteira. RJ. 1990.

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