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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Toda literatura é estrangeira, mesmo para aquele que escreve. Não se pode dizer de onde ela vem, e nem mesmo o que ela pretende de quem escreve"

"Língua pessoal, intransferível, que só o próprio escritor pode decifrar - e a literatura é essa decifração, ou a esperança de decifração"

"A literatura não tem chaves (se oferece soluções, é antiliteratura). Apresenta, apenas, hipóteses provisórias, fantasias que nos ajudam a experimentar o mundo, a suportá-lo, e a dele tirar algum sentido e alguns momentos de prazer"

"Em um mundo despedaçado, ela terá, então, a chance de rascunhar, ainda que precariamente, e sem aspirar ao definitivo, breves esboços para o futuro"

"Em um mundo obstruído por dogmas e slogans, a função da literatura não é concluir, mas desencadear. Não é fechar soluções, mas descortinar dúvidas e perguntas. Não é oferecer imagens prontas, mas vislumbrar novas maneiras de ver"

"Tudo aquilo que julgamos 'entender bem', quer dizer, dominar e possuir, está fora do literário. A leitura de um grande livro mexe com o que temos de mais instável e de mais sensível, pois joga com o inacessível e o remoto" 

"Cada um lê com o que tem, lê com o que é, lê como pode. Não existe leitura perfeita, nem completa; muita coisa, mesmo para os leitores treinados, sempre fica de fora. É esse aspecto inesgotável da literatura que lhe confere um caráter mágico"

"Livros, grandes ou pequenos, só existem na cabeça do leitor - sempre no singular. Mais ainda: existem, em cada cabeça, de uma maneira diferente. Daí que cada leitor 'lê' um livro, o 'seu' livro, ainda que leia o mesmo livro. Cada livro, para cada leitor, é um livro diferente"  

"(...) São esses grandes livros que, lidos, na intimidade e em segredo, vêm deslocar nossas visões de mundo. São eles que abalam nossa sensibilidade, que descortinam novas perspectivas e novas misérias, são eles que nos leem" 

"Depois do trabalho, Kafka saía para caminhar pelas ruas da velha Praga (...). Era só mais um solitário entre tantos. Em meio à multidão, gozava o prazer do anonimato e da indiferença, que lhe davam a sensação, valiosa, de desaparecer. Quem levaria a sério aquele homem reservado e esquisito, que parecia sempre em fuga ?"

*José Castello in "A literatura na poltrona". Ed. Record. RJ. 2007.

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