O contraste entre o
livro e o homem, entre o que é preconcebido e o que é dado pela natureza, entre
a tangibilidade do livro e a incompreensibilidade do ser humano [...]
Elias Canetti
Eu não escrevo para
leitores, escrevo porque leio o escrito do Outro. Ler o necessário é alimento,
também, ler o que se consome na interpretação e o que se perde simplesmente no
consumo diário. O cotidiano mata o leitor com tantos tiros possíveis que nem o
mais sagaz testemunha consegue vivenciar essa perda sem se tornar agressivo. A
agressividade remete-me à leitura.
Ler é ouvir a linguagem
em sua simplicidade de signos. Não existe contradição neste pensamento. Não
existe negação ao leitor, apenas decepção. Caso tenha sido a leitura perdida
pelo lado mais significativo, a linguagem que não encontra espaço, este é um
problema interno da ordem do esquecimento: o texto morrerá na última linha.
Pouco importa. Existe
um confessional, uma reza pagã à transcriação, ao entrar na linguagem e não
sair ileso de sua força. O que vem como força destruidora e impulsiona à
transformação do ler e escrever é o que está próximo e distante. Paradoxos. Um
tipo de revolta da vida sobre todas as coisas. O interno do Eu. O que se manifesta
é dentre todas as certezas, não sair ileso.
O jogo das verdades
absolutas com a dúvida é a única possibilidade de chegar ao texto sem a carga
do irracionalismo acometido pelo esgotamento do pensamento moderno. Produção de
sentidos. Ser convicto da verdade é o que leva à morte, mais cedo ou mais
tarde, a outra via irracional contra o legado racional. O modo mais fácil é
encontrar a redenção nas coisas que se assenta aos olhos ávidos por uma
certeza. Vale para o dois lados.
Atualmente uma certeza,
eliminar o Outro, o estrangeiro do pensamento nos localismos no cotidiano
simplificador.
Nunca sei se penso
porque quero compreender ou penso porque quero a distinção deste pensamento.
Ir a três fontes desta
reflexão: Alteridade – Diversidade – Diferença
Da alteridade à
diferença, o tempo que vivemos é o mesmo que torna igual a si mesmo, a reflexão
do mesmo, o que rechaça vem do interior. A estranheza que vem de fora. A
alteridade é sufocada por seu ponto finito alcançado na diferença. É como
pensar que a noite é “o outro do dia”, diria Jean Baudrillard.
Na diversidade é que
repousa a possibilidade pensamento em ver no Outro não sua mesma resposta, não
existe o pensar único na Alteridade, a menos que a negatividade seja
substituída pelo excesso de forças pró-ativas em nome de uma diferença
esvaziada pelo positivo das coisas.
O que Heidegger via no
igual, o contraponto do Ser ao mesmo.
O mesmo na diversidade,
em jogos em que a língua afiada permanece no ponto de partida além do binário
pensar.
Se a diferença é o
tornar-se estranho, a propriedade do Ser estará na mão de mãos de um único.
Ainda bem que isso é especulação de um ensaio sem saída. O excesso dele mesmo,
o não fragmento, mas na unidade expansiva, na mesmice do rechaçar por ser tão
somente já por demais a mesma coisa, se escapa para a diferença, o elo entre o
Consumo e o ser Consumido em si.
A ontologia prescinde
tudo, mas não o todo, o mesmo dilema filosófico é que talvez escape aos olhos e
aos pensantes atentos.
*Prof. Dr. Luis Antonio
Paim Gomes
Filósofo. Editor.
Escritor. Livre Pensador.
Porto Alegre/RS
Comentários
Postar um comentário