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Anotações e Reflexões de Um Filósofo Clínico*



Agora existem escolas "modernas" cheias de computadores, tablets, quadros didáticos que são um grande monitor de computador. Livros didáticos digitais. Portais na internet com exercícios e avaliações. Em suma: telas por todos os lados, em nome de uma educação divertida.

Então eu me lembro de que os executivos do Vale do Silício não permitem que os seus filhos utilizem celulares e gadgets afins e valorizam as escolas que não seguem a moda da "inovação tecnológica": bit.ly/35KU6ZQ

Vejam, amigos: aqueles que melhor conhecem os efeitos da internet e das telinhas, que são justamente os executivos das empresas de informática, não permitem que os seus filhos pequenos se envolvam com celulares, tablets, redes sociais.

Eles sabem muito bem que o futuro de uma criança "conectada" é um adulto emocionalmente inepto. Eles querem a conexão digital para todos nós - mas, evidentemente, não para os seus próprios filhos.

* * *

Essa é uma das razões pelas quais na nossa casa as telas são bastante controladas: quase nunca assistimos à televisão, por exemplo. Sim, o nosso filho de oito anos tem um videogame - mas o console atualmente está guardado num armário...

Talvez por isso tenhamos notado algo curioso e sério: o nosso rapazinho é quase sempre um menino tranqüilo, amoroso, respeitador. Contudo, quando ele tem acesso a um filme, a um seriado infantil ou a um videogame, seu comportamento tende a se transformar: com freqüência, torna-se intolerante e desafiador, e tem crises de raiva por qualquer motivo.

Isso é curioso porque eu, que cresci na época do Atari, me recordo de ficar exatamente da mesma maneira quando fazíamos, durante as férias, sessões de horas e horas de jogos eletrônicos com os primos ou os amigos. Até hoje guardo na memória a sensação de cansaço nos olhos e no peito, de insatisfação, de raiva. Qualquer coisa que me contrariasse, por pequena que fosse, era a gota d'água. Por isso, compreendo bem o que acontece com o meu filho.

E isso é sério porque quando fui diretor de uma escola do ensino fundamental constantemente encontrava, nas conversas com pais, uma correlação entre o uso contínuo de televisão/videogame e picos no comportamento agressivo de algumas crianças. Para tornar o problema mais grave, às vezes isso se combinava com a alimentação inadequada (pensem em fandangos e coxinha todo dia, amigos) e com a ausência de uma rotina de sono saudável (crianças de seis anos dormindo às onze da noite...).

Alguns diretores, diante do comportamento dessas crianças, exigiriam imediatamente um laudo psicológico. Talvez eles não percebessem que esses comportamentos agressivos ou intolerantes não são o problema, mas sim um sintoma - um sintoma de um problema que, muitas vezes, não diz respeito a uma patologia, mas a uma dinâmica psicossocial cuja causa está no próprio ambiente familiar.

Por isso, com peso no coração, pergunto-me: quantas crianças não estão a receber etiquetas de "TOD" ou de "TDAH" quando, na verdade, o que sofrem é de excesso de telas, de uma alimentação que não alimenta e da falta de sono de qualidade?

*Prof. Dr. Gustavo Bertoche
Filósofo. Escritor. Musicista. Educador. Filósofo CLínico. Livre Pensador. 
Teresópolis/RJ

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