"(...) O homem parece ter desertado o próprio corpo, flácido invólucro de carne, lançando o espírito num lugar onde ninguém pode encontrá-lo (...)"
"(...) Ele assobia, ela sorri, ele grita espere, no instante em que a cantora faz uma pausa. Ela se distancia, mas seu espírito fica para trás"
"(...) Ele lembra alguém, mas alguém que ela nunca teria conhecido"
"(...) Achou a estação de metrô, mas não entrou. Continuo a andar sem conhecer o caminho, seguindo apenas a intuição. Esticou o quanto pôde o percurso para não chegar tão rápido em casa"
"Se possuísse uma máscara, teria escolhido aquele momento para colocá-la (...) A máscara seria de polietileno (...) com a efígie de um indivíduo X. Este teria a mesma profissão que ela, realizaria o mesmo serviço, mas, cada noite após o expediente, conseguiria viver uma vida diferente da sua"
"Um ato despercebido, perdido entre milhares de outros, não detectado por um aparelho eletrônico infalível"
"(...) Prefere caminhar sozinha, sem alguém querendo convencê-la de que pode elevá-la acima da realidade. O amor assume diferentes formas, molda-se por aquilo que o fez nascer"
"(...) Desloca-se, enfim, mudando o ponto de vista e enxergando (...)"
"(...) o sujeito (...) faz um excepcional esforço e pergunta o que ela faz na vida (...) a pergunta é feita durante um hiato na conversa, e todos se julgam convidados a se intrometer; os outros seis agora esperam que a garota apagada da ponta da mesa tome a palavra (...) Estão loucos para saber em que categoria classificá-la (...) Todos os olhares estão cravados nela, um autêntico tribunal aguarda a resposta correta de sua parte. Ela já não tem certeza se ainda sabe falar a língua deles. Só há um meio de tirar isso a limpo. Sou prostituta."
"(...) Uma só palavra, e, aos olhos deles, tinha virado outra pessoa: a realidade tinha rachado num lugar improvável"
*Céline Curiol in "Voz sem saída". Ed. Nova Fronteira. RJ. 2006.
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