Pular para o conteúdo principal

Postagens

Qual a abrangência terapêutica da Filosofia Clínica?*

Essa pergunta vem atrelada, às vezes, a outra pergunta. Qual é a fundamentação filosófica da Filosofia Clínica? Vamos começar com outra pergunta? É possível que um pensador ou uma linha de pensamento (teoria) consiga abranger toda manifestação plural do fenômeno humano? Considerando o fenômeno humano e suas manifestações tão plurais, múltiplas ou diversas, como considerar que uma linha teórica ou um autor, por mais abrangente que seja sua visão, possa dar conta do fenômeno humano em sua totalidade? A não ser que não consideremos o fenômeno humano plural e diverso! Mas, se o considerarmos, por mais abrangente que seja uma perspectiva sobre o fenômeno humano, advinda de um autor ou de uma linha teórica, ela é limitada. Não só pela busca de referências que ele possa buscar, mas pela sua própria perspectiva selecionadora do que buscar e do que deixar de fora. A Filosofia Clínica não fundamenta seu método em um autor ou em uma linha teórica filosófica. Fundamenta, sim, no es

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) a sabedoria de observar as coisas como parte indissolúvel de um conjunto" "(...) constato que é da natureza de qualquer livro sair em defesa da narrativa e perpetuar a nossa espécie, dizer quem somos" "(...) a cultura é o que a imaginação lhe ditar" "Para Machado de Assis, a cidade é poderosa manifestação poética. Um labirinto que favorece suas reflexões e do qual não quer sair, atraído pelas suas zonas de sombra" "(...) Apaixonado pelo que havia de mágico e mítico naquele povo que, incapaz de estabelecer fronteira entre o real e a imaginação, delegava ao Hablador da tribo o ato de responder pelas contradições de seu mundo" "Tal poética, em formação, rendia frutos. Desaparelhava obstáculos iniciais, reduzia os preconceitos mentais e emocionais expedidos pelo lar e pelos compêndios escolares, acautelava-se contra as pautas decorrentes da criação e das versões canônicas da realidade" "Anc

Um lugar sagrado*

                     A primeira vista se acessa aquilo que salta aos olhos, como: espanto, dúvida, invisibilidade. Com essa aproximação se tem diante de si algo desconhecido. Eventos refugiados no esboço de uma irrealidade acontecendo, num vislumbre das quimeras e utopias esparramadas nos desvãos manuscritos da vontade inicial.       Os princípios de verdade consagram, em seu convívio diário, um espírito de rebanho. O cerceamento, a interdição, reapresenta a noção de paraíso e inferno. A recusa de ser encontra na cultura sua melhor escola aos freios existenciais. Quando refém desses agendamentos, as buscas seguem à deriva de seu melhor.   Em meio a essa vontade interditada se especula sobre as rotas de fuga para si mesmo. Aqui se cogita sobre a vertente não sufocada pelo contexto onde surgiu, aquilo que se mantém apesar de. Uma conjugação de habilidades e competências a transgredir os limites que não lhe pertencem. Assim, se pode decifrar a gramática da subjetividade ao rev

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"As poéticas contemporâneas, ao propor estruturas artísticas que exigem do fruidor um empenho autônomo especial, frequentemente uma reconstrução, sempre variável, do material proposto, refletem uma tendência geral de nossa cultura em direção aqueles processos em que, ao invés de uma sequência unívoca e necessária de eventos, se estabelece como que um campo de probabilidades, uma ambiguidade de situação, capaz de estimular escolhas operativas ou interpretativas sempre diferentes"  "(...) a abertura é a condição de toda fruição estética, e toda forma fruível como dotada de valor estético é aberta. É aberta, como já vimos, mesmo quando o artista visa a uma comunicação unívoca e não ambígua" "(...) um aspecto peculiar da obra, que a desvende inteira sob uma nova luz, deve esperar o ponto de vista capaz de captá-lo e projetá-lo" "Cada observador, com o passar de seu tempo, descobre, por assim dizer, novas porções do espaço-tempo, que se lh

Relacionamento Sério*

                                                       Tenho pena das pessoas que estão num relacionamento sério. Não sei se a palavra pena seria a mais adequada, talvez fosse melhor dizer que lamento saber que entre tantas opções, escolheram entrar justo numa relação deste tipo. E fica pior ainda, quando estas mesmas pessoas orgulhosamente compartilham seu status na mídia social - #em um relacionamento sério#. Relacionamentos sérios são cautelosos, vigilantes, sisudos. Envolvem posse, ciúme, cobrança, julgamento, competição para saber quem é mais inteligente, mais esperto, mais esclarecido. Uma guerra sem exército, disputada dia a dia para definir quem vai mandar em quem. Não é permitido falhar, estão sempre em guarda, sempre devendo, fiscalizando, reclamando. Nunca tiram folga para se querer, desejar, amar. Nem quando estão juntos, tampouco quando se separam. Relacionamentos sérios vão se consumindo dia a dia. São contratos, acordos, fugas, silêncios, distâncias, dissimul

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) o escritor, visto pelo leitor, realmente não interessa muito - é o livro, o texto, a linguagem que, às vezes até mesmo à revelia de seu autor, segue uma viagem própria e transforma seus leitores" "Quem escreve, escolhe a solidão do risco. Assim, retomando a meada, o escritor também, queira ou não, goste ou não, é uma figura suspensa à margem, no instante em que se decidiu por sua primeira palavra" "(...) não há de fato praticamente nenhum escritor de relevância que de algum modo, no seu tempo, não tenha vivido à margem ou então cultivado um olhar à margem, capaz de ver o que o olhar comum não conseguia ver" "Na boa literatura, a margem está sempre no centro do olhar" "É sempre a literatura que de fato, na faixa estreitíssima em que a palavra escrita conseguiu ocupar seu espaço civilizador, vem tentando nos dizer quem somos, em suas mensagens cifradas, às vezes interessadas, sempre contraditórias, à margem, que atr

Viver - realmente viver - é aceitar com alegria o risco iminente da dor e da morte*

Existe um abismo diante de cada passo: o reconhecimento dessa verdade nos faz mais graves, mas também mais leves - tão leves que queremos dançar. É divino encontrar, em algum momento da caminhada, alguém que aceite o nosso convite para a dança, até o fim, à beira do precipício, e que seja capaz de dançar sorrindo em meio à inevitável tragédia da vida humana. No dia 04 de julho, Bruna e eu comemoramos nossos quinze anos juntos: quinze anos de par sob o sol e as estrelas, dança após dança, diante do Desconhecido. Não comemoramos numa festa, mas num quarto de hospital, onde celebramos a sua permanência no mundo após uma breve e intensa luta contra a Morte. Mais um motivo para continuar, com um sorriso, a nossa dança da Vida. *Gustavo Bertoche e Bruna Mendes Bertoche Pais do João e da Diana Teresópolis/RJ

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) não há qualquer embarcação de lazer nesse rio. Atraídos por uma irresistível corrente, chegam das tempestades e calmarias do mar, do seu silêncio e solidão, para o ponto de ancoragem que lhes é atribuído" "A aptidão de tudo para seu próprio objetivo, a previsão e a prontidão dedicadas a cada processo vêm, como pela porta de trás, fornecer o elemento de beleza a que ninguém nas docas deu a mínima atenção" "(...) A mente se torna uma lousa perpetuamente mutante na forma, nos sons e nos movimentos" "(...) Seu orgulho exigiu a ilusão da permanência. O nosso, pelo contrário, parece deleitar-se em provar que podemos tornar a pedra e o tijolo tão transitórios quanto nossos próprios desejos" "Derrubamos e reconstruímos enquanto esperamos ser derrubados e reconstruídos. É um impulso provocador da criação e da fertilidade. A descoberta é estimulada e a invenção fica em alerta" "(...) não estou pensando em educ

Notas sobre a filosofia clínica e a filosofia*

A filosofia clínica é fruto da reflexão de Lúcio Packter iniciada nos anos 80 do século passado. Se fôssemos enquadrar essa área em um “compartimento” dos estudos filosóficos, talvez o espaço que encontraríamos seria o da filosofia prática cultivada desde os tempos de Aristóteles, que pensa sobre o agir humano, na qual se encontra a ética. Porém, diferente das abordagens filosóficas que visam encontrar elementos universais da natureza humana para orientar nossa busca para o que chamamos de felicidade, a proposta de Packter passa por outro caminho: o da singularidade. O que há de universal na busca da filosofia clínica são aspectos formais da estrutura humana – omitirei os conceitos específicos da área para não tornar o texto demasiado longo. Esses aspectos são inspirados em diversos filósofos desde os gregos aos contemporâneos. Porém, precisamos destacar que a filosofia clínica não é uma mera “colcha de retalhos”. Tal como todo bom filósofo faz, Packter dialoga, se insp

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Que importam para nós, filósofo do sonho, os desmentidos do homem que reencontra, após o sonho, os objetos e os homens ?O devaneio foi um estado real, em que pesem as ilusões denunciadas depois. E estou certo que fui eu o sonhador. Eu estava lá quando todas essas coisas lindas estavam presentes no meu devaneio (...)" "A correlação do sonhador ao seu mundo é uma correlação forte. É esse mundo vivido pelo devaneio que remete mais diretamente ao ser do homem solitário. O homem solitário possui diretamente os mundos por ele sonhados. Para duvidar dos mundos do devaneio, seria preciso não sonhar, seria preciso sair do devaneio"  "(...) Temos tanta necessidade das lições de uma vida que começa, de uma alma que desabrocha, de um espírito que se abre! (...)" "(...) todos esses grandes fenômenos que enxergamos mal quando não estamos sozinhos para olhar" "(...) Como ser objetivo diante de um livro que se ama, que se amou, que se

Imagens do Pensar*

                                “O imaginário e o real tornam-se indiscerníveis.”                                                              Gilles Deleuze “Quando tudo foi dito, quando a cena maior parece terminada, há o que vem depois.”                                                       Michelangelo Antonioni Minha, a letra que vem do pensamento, A roupa, visto ‒ a música, sinto na pele. Transfiguro em tua boca, triste é viver neste buraco, A solidão é o começo da liberdade, me faz cantarolar, Acordar noturno é o começo do tempo que se despede. A narrativa em filigranas discorre no tempo, Folhas perdem a força, sequência do pensar disperso, O presente está depois da imagem, em signos, na nuvem. O movimento é de Antonioni, reúne os tempos, O vazio mescla com o tempo morto. O que está aí, feito está. O que foi dito, está aqui. Presa do tempo, o homem, inventa o que vem depois, O Imaginário e o Real é o café da manhã à linguagem da vida

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"A tradição é a muralha do passado que envolve o presente e que é preciso transpor para penetrar no futuro: porque a natureza não admite pausa no conhecimento (...) Sem cessar cria homens que o excesso de suas forças arrasta, como conquistadores, das margens conhecidas da alma para as zonas novas do coração e do espírito, através do sombrio oceano do desconhecido"  "(...) Sem esses pioneiros audaciosos, a humanidade seria a sua própria prisioneira e o seu desenvolvimento um labirinto. Sem esses anunciadores, pelos quais precede, de um certo modo, a si mesma, nenhuma geração acharia o seu caminho. Sem esses sonhadores a humanidade ignoraria o seu sentido profundo (...)" "(...) Não são sábios pacíficos, geógrafos do país natal que renovaram o mundo, mas os ' fora da lei ', que, atravessando oceanos desconhecidos, vagaram para a índia. Não são os filósofos, os psicólogos que penetraram na profundidade da alma moderna, mas os que, entre os poet

Visitas