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Qual a abrangência terapêutica da Filosofia Clínica?*



Essa pergunta vem atrelada, às vezes, a outra pergunta. Qual é a fundamentação filosófica da Filosofia Clínica?

Vamos começar com outra pergunta? É possível que um pensador ou uma linha de pensamento (teoria) consiga abranger toda manifestação plural do fenômeno humano? Considerando o fenômeno humano e suas manifestações tão plurais, múltiplas ou diversas, como considerar que uma linha teórica ou um autor, por mais abrangente que seja sua visão, possa dar conta do fenômeno humano em sua totalidade?

A não ser que não consideremos o fenômeno humano plural e diverso! Mas, se o considerarmos, por mais abrangente que seja uma perspectiva sobre o fenômeno humano, advinda de um autor ou de uma linha teórica, ela é limitada. Não só pela busca de referências que ele possa buscar, mas pela sua própria perspectiva selecionadora do que buscar e do que deixar de fora.

A Filosofia Clínica não fundamenta seu método em um autor ou em uma linha teórica filosófica. Fundamenta, sim, no estudo da filosofia. Mas o estudo da filosofia é o estudo de um conjunto de, no mínimo, 2500 anos de existência, de teorias, pensamentos, ideias, sistemas que falam, especulam, questionam sobre o fenômeno humano em todos seus âmbitos: metafísico, ontológico, ético, moral, político, social, relacional, fenomenológico, hermenêutico, reflexivo, cognitivo, passional, comportamental, individual, mental, físico, espiritual, linguagem, estético,... e cada um deles tratado, nesse âmbito histórico, de várias formas e perspectivas.

Então o estudo da filosofia como terapêutica da Filosofia Clínica parte do princípio de que um autor ou linha teórica não possa dar todas as respostas à multiplicidade do fenômeno humano e suas manifestações.

O próprio criador da filosofia clínica, Lúcio Packter, se diz sistematizador de um método e não criador de uma teoria normativa-valorativa. Na Filosofia Clínica não tem como fazer aquela pergunta, que podem ser feitas em muitas outras terapias, tipo: “O que Freud/Jung/Lacan pensariam ou diriam sobre isso?”, pois o que Lúcio Packter oferece é um método, não uma teoria.

Não existe uma teoria ético-cognitiva-normativa-valorativa a partir da Filosofia Clínica. Há na Filosofia Clínica um conjunto abrangente de múltiplos autores, ideias, pensamentos sobre o fenômeno humano. Portanto, um método que não normatiza, não julga, não avalia como tem que ser, enfim, não é método prescritivo do viver humano e seus comportamentos.

Fica então quase respondida a pergunta primeira que começamos nesse pequeno texto: qual a abrangência terapêutica da filosofia clínica? É a abrangência daquele terapeuta que parte de um conjunto abrangente de filosofias e filósofos da história do pensamento humano e amparado por um método aberto à singularidade e a todas as suas múltiplas manifestações.

*Prof. Dr. Fernando Fontoura
Filósofo. Escritor. Filósofo Clínico. Professor Titular na Casa da Filosofia Clínica.
Porto Alegre/RS

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