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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"(...) Hermann Hesse (...) É também verdade que vivia à margem, ora na Suíça, ora na Itália, exilado em si mesmo, sempre inquieto e dividido, por esse aspecto homem de seu tempo e, no entanto, muito estrangeiro a seu tempo. Seu destino é curioso. Mais do que qualquer outro, ele tem direito ao título de cosmopolita"

"(...) o que faz o tormento dos sonhos, seu poder de revelação e de encantamento, é que eles nos transportam em nós para fora de nós, lá onde o que nos é interior parece estender-se numa pura superfície, sob a luz falsa de um eterno fora"

"Virginia Woolf, fala de 'realidade'; ela diz que o romancista 'busca trazer à luz a parcela de realidade que é a sua' (...) como essa realidade não é dada de antemão, nem nos outros livros, mesmo os considerados obras-primas, nem no mundo que se abre a nosso olhar cotidiano, como ela nos escapa constantemente, inacessível e como que furtada por aquilo que a manifesta, é uma realidade tão simples, mas também tão excepcional quanto o livro que a fará brilhar por um instante a nossos olhos"

"Qual é esse projeto secreto, inacessível e inexistente cuja pressão constante se exerce, de fato, sobre os homens, e particularmente sobre os homens problemáticos, os criadores, os intelectuais, que estão a cada instante, como que disponíveis e perigosamente novos ? A ideia de uma vocação (de uma fidelidade) é a mais perversa das que podem perturbar um artista livre"

"(...) o próprio do escritor é, em cada obra, reservar o indeciso na decisão, preservar o ilimitado junto ao limite, e nada dizer que não deixe intacto todo o espaço da fala ou a possibilidade de dizer tudo"

"A errância, o fato de estarmos a caminho sem poder jamais nos deter, transformam o finito em infinito. A isso se acrescentam estes traços singulares: do finito, que é no entanto fechado, podemos sempre esperar sair, enquanto a vastidão infinita é a prisão, porque é sem saída; da mesma forma, todo lugar absolutamente sem saída se torna infinito"

"(...) Paul Claudel (...) infinitamente ávido de percorrer o mundo e de romper os laços com sua família e a vizinhança, sofreu entretanto com essa ruptura e, tendo partido, ficou desde então sempre exilado, em casa como alhures" 

"A narrativa não é o relato do acontecimento, mas o próprio acontecimento, o acesso a esse acontecimento, o lugar aonde ele é chamado para acontecer, acontecimento ainda por vir e cujo poder de atração permite que a narrativa possa esperar, também ela, realizar-se"

*Maurice Blanchot in "O livro por vir". Ed. Martins Fontes. SP. 2005.

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