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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Há na música qualquer coisa de inefável e de íntimo; além disso, ela passa perto de nós semelhante à imagem de um paraíso familiar embora eternamente inacessível; ela é para nós ao mesmo tempo perfeitamente inteligível e completamente inexplicável; isso se deve ao fato de que ela nos mostra todos os movimentos do nosso ser, mesmo os mais escondidos, libertos daí em diante dessa realidade que os deforma e os altera"

"O poeta é, portanto, o resumo do homem em geral: tudo o que alguma vez fez bater o coração de um homem, tudo o que a natureza humana, numa circunstância qualquer, fez brotar para fora de si, tudo o que alguma vez habitou e amadureceu num peito humano, tal é a matéria que ele trabalha, como trabalha todo o resto da natureza (...)"

"(...) Só as obras verdadeiras, tiradas diretamente do seio da natureza e da vida, permanecem eternamente jovens e sempre originais, como a própria natureza e a própria vida, visto que não pertencem a nenhuma época, são da humanidade. Os contemporâneos, a que elas não se dignam comprazer, acolhem-nas com frieza"

"(...) como dizia Empédocles, o idêntico só poderia ser reconhecido pelo idêntico; a natureza só pode ser compreendida pela natureza; só a natureza pode sondar a profundidade da natureza: mas também só o espírito é capaz de sentir o espírito"

"Toda relação tem apenas uma realidade relativa; por exemplo, todo ser considerado no tempo pode ser igualmente, e em compensação, qualificado de não-ser, visto que o empo é apenas aquilo que permite a várias qualidades opostas pertencerem a um mesmo objeto: é por isso que cada fenômeno que está no tempo acaba por já aí não estar, visto que aquilo que separa o seu começo do seu fim é justamente o tempo, coisa essencialmente fugidia, inconstante e relativa, aqui designada duração"

"(...) a existência do mundo inteiro depende do primeiro ser pensante, por muito imperfeito que tenha sido esse ser; por outro lado, não é menos evidente que esse primeiro animal pressupõe necessariamente antes dele um alonga cadeia de causas e de efeitos, de que ele próprio constitui um pequeno elo"

"O mundo é a minha representação. (...) Possui então a inteira certeza de não conhecer nem um sol nem uma terra, mas apenas olhos que vêem este sol, mãos que tocam esta terra; em uma palavra, ele sabe que o mundo que o cerca existe apenas como representação, na sua relação com um ser que percebe, que é o próprio homem"

*Arthur Schopenhauer in "O mundo como vontade e representação". Ed. Contraponto. RJ. 2001. 

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