Pular para o conteúdo principal

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Preciso, de qualquer maneira, retornar à Rússia; aqui, estou a perder minha força para escrever, não tendo à mão o que é essencial para o meu ofício - ou seja, as atualidades russas (das quais eu retiro minhas ideias), o povo russo. A toda hora vejo-me obrigado a perguntar, a pedir, sentindo-me deslocado"

"(...) A parte mais vil dessa história (...) é que tenho essa natureza exageradamente apaixonada. Em tudo, entrego-me até o extremo, em toda a minha vida nunca consegui agir dom moderação"

"Fico imensamente feliz por ter descoberto que trago paciência em minha alma por tanto tempo, que não desejo as coisas materiais e não preciso de nada mais que livros e a possibilidade de escrever e de estar sozinho por algumas horas todos os dias. Esse último desejo é o que mais me angustia. Por quase cinco anos tenho estado sob constante vigilância, ou com várias outras pessoas, e nem uma hora sequer sozinho comigo mesmo"

"(...) Mais uma vez, muito obrigado pelos livros. Eles distraem-me mais que qualquer outra coisa. Por quase cinco meses tenho vivido exclusivamente de minhas próprias provisões - ou seja, de minha própria mente e apenas dela (...)"

"A cada dia surgem tantas novidades, tantas mudanças e impressões, coisas boas e agradáveis, outras desvantajosas e desagradáveis, que não tenho tempo para refletir sobre elas. Em primeiro lugar, estou sempre ocupado. Tenho montes de ideias e escrevo incessantemente. Mas não pense que para mim isso seja um mar de rosas. Longe disso"

"Querido Irmão, Perdoe-me por não ter escrito antes. Estou tendo, como de costume, um monte de aborrecimentos para resolver. Meu romance, do qual simplesmente não consigo fugir, mantém-me eternamente trabalhando. Se eu soubesse de antemão como seria isso, eu jamais teria começado a escrevê-lo. Decidi refazê-lo totalmente e, meu Deus, como isso fez o texto melhorar"

"(...) Não pode imaginar o quanto é amargo para mim quando as pessoas não me compreendem, quando deturpam o que eu disse e veem tudo distinto do que eu pensei"

* Fiodor Dostoiévski in "Correspondências (1838-1880)". Ed. 8Inverso, Porto Alegre/RS. 2011. 

Comentários

Visitas