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Vou contar um segredo*



Hoje, na escola, conversei com S., a simpática moça responsável por devolver os alunos aos pais.

S. me contou que adora crianças. Todavia, ela e o marido não se sentem "preparados" para encarar a responsabilidade de ter um bebê.

* * *

Vou contar um segredo.

Nunca ninguém está preparado.

Não existe aquele momento em que você diz: "Pronto! Agora temos bastante dinheiro, tempo disponível, juventude e saúde".

Não! Ninguém tem o dinheiro necessário para tudo o que uma criança precisa: escola, plano de saúde, roupas, brinquedos, passeios.

Se, por felicidade, o dinheiro sobra, então o tempo é que é escasso. Trabalho, compromissos sociais, cuidados com a saúde - como ter um filho se não temos tempo?

E o tempo escorre feito areia pelas mãos: cada dia que passa é um dia a menos na vida com nossos filhos - os que já estão aqui e os que, quem sabe?, no futuro estarão.

Praticamente todas as mães, praticamente todos os pais que conheci na vida sofriam da falta de dinheiro, da falta de tempo e da inevitável culpa: o sentimento de culpa por não ter o dinheiro, não ter o tempo, não ter a disposição ou a saúde para brincar mais, muito mais, com as crianças...

Isso inclui, evidentemente, a minha mãe e o meu pai. E a mãe e o pai de todos os meus amigos mais íntimos. Amigos que se tornaram pessoas amorosas, corajosas, indispensáveis.

E inclui também alguns entre esses meus amigos indispensáveis: filhas e filhos que se tornaram mães e pais, recomeçando, com bravura, a impossível caminhada da vida para a qual nunca ninguém está preparado.

A impossível caminhada da vida para a qual ninguém nunca está preparado, mas que se torna simples e fácil quando, num domingo qualquer entre duas semanas da tempestade da existência, os olhos do seu filho buscam os seus e sorriem com toda a confiança que existe no universo.

*Prof. Dr. Gustavo Bertoche
Filósofo. Escritor. Filósofo Clínico. Livre Pensador.
Teresópolis/RJ

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