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Anotações e Reflexões*



A paternidade não nos dá respostas para os problemas da vida interior.

As dúvidas, o vazio, a angústia - condição inescapável da existência humana! - continuaram lá quando o meu filho nasceu.

Ter trabalhado além dos limites do corpo e da alma para pagar as contas, ter enfrentado sozinho assaltantes rondando a casa de noite, ter cuidado do sofrimento de quem amo: nada disso me tornou um super-herói, nem me fez capaz de curar as minhas feridas internas, as que todo mundo carrega consigo. Um pai não deixa de ser um homem cheio de contradições ao fazer o que precisa. A paternidade não nos dá soluções.

* * *

A paternidade não me deu soluções, mas acabou com pelo menos uma questão - daquelas grandes - na minha vida: quando me tornei pai, a pergunta sobre o "sentido da vida" perdeu o significado.

Não, eu não descobri esse sentido. A paternidade não me deu esse tipo de resposta. O que aconteceu foi diferente: a pergunta simplesmente deixou de ter importância.

Quando me tornei pai, descobri que não mais me interessava buscar o sentido da vida; que só me basta fazer a viagem, aproveitando todas as suas paisagens, os seus cheiros, os seus mistérios. Eu percebi que a caminhada junto com quem amamos é longa; mas também que, quando estivermos no final desta grande aventura, parecerá ter sido curta demais.

Por isso, pouco importa aonde vamos chegar; a riqueza da jornada não está nos cobres contados e escondidos, mas na descoberta, passo a passo, juntos, de um mundo que está sempre nascendo. Eu reaprendo isso toda vez que os olhos do meu filho de oito anos me procuram, confiantes de que a estrada da vida será bonita. E então não preciso mais de metafísica nenhuma.

*Prof. Dr. Gustavo Bertoche
Filósofo. Escritor. Musicista. Filósofo Clínico. Pai do João e da Diana.
Teresópolis/RJ

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