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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"As poéticas contemporâneas, ao propor estruturas artísticas que exigem do fruidor um empenho autônomo especial, frequentemente uma reconstrução, sempre variável, do material proposto, refletem uma tendência geral de nossa cultura em direção aqueles processos em que, ao invés de uma sequência unívoca e necessária de eventos, se estabelece como que um campo de probabilidades, uma ambiguidade de situação, capaz de estimular escolhas operativas ou interpretativas sempre diferentes" 

"(...) a abertura é a condição de toda fruição estética, e toda forma fruível como dotada de valor estético é aberta. É aberta, como já vimos, mesmo quando o artista visa a uma comunicação unívoca e não ambígua"

"(...) um aspecto peculiar da obra, que a desvende inteira sob uma nova luz, deve esperar o ponto de vista capaz de captá-lo e projetá-lo"

"Cada observador, com o passar de seu tempo, descobre, por assim dizer, novas porções do espaço-tempo, que se lhe apresentam como aspectos sucessivos do mundo material, embora, na realidade, o conjunto dos eventos que constituem o espaço-tempo já existisse antes de ser conhecido"

"(...) a tendência a fazer com que cada execução da obra nunca coincida com uma definição última dessa obra; cada execução a explica mas não a esgota, cada execução realiza a obra mas todas são complementares entre si, enfim, cada execução nos dá a obra de maneira completa e satisfatória mas ao mesmo tempo no-la dá incompleta, pois não nos oferece simultaneamente todos os demais resultados com que a obra poderia identificar-se"

"As poéticas do pasmo, do gênio, da metáfora, visam, no fundo, além de suas aparências bizantinas, a estabelecer essa tarefa inventiva do homem novo, que vê na obra de arte, não um objeto baseado em relações evidentes, a ser desfrutado como belo, mas um mistério a investigar, uma missão a cumprir, um estímulo à vivacidade da imaginação"

*Umberto Eco in "Obra aberta". Ed. Perspectiva. SP. 2005. 

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