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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"(...) Que tudo muda, é uma verdade eterna. E que sempre há alguma coisa - o ser, o devir -, é a própria eternidade"

"Não deixa de haver sucessão, já que há movimento, mudança, devir - Já que o presente não cessa de suceder a si mesmo, mas transformando-se. É sempre hoje, mas nunca é o mesmo. É sempre agora, mas todos os agoras são diferentes"

"(...) já que o passado só é passado na medida em que não existe mais, já que o por vir só é por vir na medida em que ainda não existe: se existissem, seriam presentes, contento-me com viver, até prova em contrário, apenas no que me é dado. Aliás, é o melhor presente que já me deram, pois é o próprio presente"

"Se a matéria não tem espírito, por que o nosso espírito teria de poder compreendê-la inteiramente ? Se todo pensamento é relativo a um cérebro, como poderia ele alcançar absolutamente o absoluto ?"

"O que a experiência nos ensina é (...): que o presente nunca cessa, nunca se interrompe, de modo que o que nos autoriza a afirmar que o tempo é, é que ele não cessa de se manter"

"Só há temporalidade porque nós nos lembramos do passado, porque antecipamos o futuro, porque escapamos, pelo menos desse ponto de vista, ao passar do tempo real, que lhes veda, ao contrário, ser ainda ou já"

"A temporalidade só existe em nós; nós só existimos no tempo"

"(...) Mas esse tempo não é o tempo real, não é o tempo do mundo, não é o tempo da natureza; é o tempo da alma, é o tempo do espírito, e o que chamaríamos melhor de temporalidade, entendendo por isso a unidade - na consciência, por ela, para ela - do passado, do presente e do futuro"

"O tempo não pode nem existir absolutamente, nem não existir absolutamente: ele só existe relativamente. Relativamente a quê ? À mudança"

*André Comte-Sponville in "O Ser-Tempo". Ed. Martins Fontes. SP. 2000.

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