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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"(...) não há qualquer embarcação de lazer nesse rio. Atraídos por uma irresistível corrente, chegam das tempestades e calmarias do mar, do seu silêncio e solidão, para o ponto de ancoragem que lhes é atribuído"

"A aptidão de tudo para seu próprio objetivo, a previsão e a prontidão dedicadas a cada processo vêm, como pela porta de trás, fornecer o elemento de beleza a que ninguém nas docas deu a mínima atenção"

"(...) A mente se torna uma lousa perpetuamente mutante na forma, nos sons e nos movimentos"

"(...) Seu orgulho exigiu a ilusão da permanência. O nosso, pelo contrário, parece deleitar-se em provar que podemos tornar a pedra e o tijolo tão transitórios quanto nossos próprios desejos"

"Derrubamos e reconstruímos enquanto esperamos ser derrubados e reconstruídos. É um impulso provocador da criação e da fertilidade. A descoberta é estimulada e a invenção fica em alerta"

"(...) não estou pensando em educar as massas para um mais alto padrão de sensibilidade estética"

"(...) E não é uma curiosidade frívola que nos leva à casa de Dickens, de Johnson, de Carlyle e de Keats. Nós os conhecemos por suas casas - parece que realmente os escritores se imprimem em seus pertences de modo mais indelével do que outras pessoas"

"(...) Senso estético podem não ter nenhum; mas geralmente possuem um dom muito mais raro e interessante: a faculdade para abrigar-se apropriadamente, para transformar a mesa, a cadeira, a cortina, o tapete em sua própria imagem. Consideremos os Carlyle, por exemplo. Uma hora passada na Cheyne Row, n. 5 nos dirá mais sobre eles e suas vidas do que podemos aprender em todas as biografias"

"(...) Keats morreu jovem e desconhecido no exílio. A vida continua do lado de fora da janela"

"(...) Para contemplar Londres, subiram a essa colina Keats e Coleridge, e talvez Shakespeare. Justamente ali, onde naquele exato instante o rapaz de sempre senta-se num banco de ferro abraçado a moça de sempre" 

"(...) os lábios estão comprimidos por um silêncio fugidio; os olhos, semicerrados pelo pensamento do instante. Esses mortos, se mortos estão, viveram plenamente"

"(...) Ali estão os poetas mortos ainda meditando, ainda ponderando, ainda questionando o significado da existência"

"(...) o velho mendigo, após jantar os restos de um saco de papel, espalha migalhas para os pardais"

*Virginia Woolf in "Cenas londrinas". Ed. José Olympio. RJ. 2006. 

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