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Uma busca por bem viver*



Qual a justificação para alguém procurar uma terapia? Dentre muitas, as mais recorrentes são as parelhas doença/cura, anormalidade/normalidade, loucura/sanidade. Porém, há outras justificações como o autoconhecimento, o bem-viver (não é necessário estar em ‘mal-viver’), a busca de uma condição melhor (não é preciso estar em uma situação ‘ruim’). Não em sua generalidade, mas, em grande parte de nossa sociedade, as primeiras justificações se dão pelas terapias ‘psi’, as segundas, pelas terapias filosóficas.

Qual a diferença? Além da abordagem de aproximação ao fenômeno humano e seus modos existenciais, as terapias filosóficas são baseadas prioritariamente ou totalmente nos escritos de mais de 2500 anos de filosofia (e filósofos). Algumas terapias filosóficas usam de conteúdo filosófico (e de filósofos) aplicado à terapia, algumas dessas são chamadas de aconselhamento filosófico.

Outras, como a Filosofia Clínica, não utilizam de conteúdo filosófico aplicado à terapia, mas na construção do método de aproximação e abordagem ao múltiplo fenômeno humano. Por isso, de alguma forma, respeita ainda mais a chamada singularidade do outro pois não o coloca sob a luz ou narrativa de algum filósofo ou teoria filosófica, fazendo do espaço terapêutico um vazio a ser preenchido pela própria narrativa e história do outro.

É o terapeuta da Filosofia Clínica que se molda ao outro e não outro que se molda a uma teoria ou conteúdo filosófico pré-determinado. As justificações primeiras descritas acima para procurar uma terapia - doença/cura, normalidade/anormalidade, loucura/sanidade – são, para a Filosofia Clínica, justificações não que diz algo sobre o fenômeno humano, mas de relações de poder e subjugação institucionais dentro de nossa sociedade.

Um espaço e lugar terapêutico não precisa ser transformado em um muro de lamentações à procura de problemas existenciais (socialmente aceitos e sancionados) que precisam ser curados, voltar à uma pretensa normalidade ou sanidade mental (ou espiritual), mas pode ser, como na Filosofia Clínica, um espaço de construção compartilhada na busca de um bem-viver, seja ele qual for para aquele que procura a terapia.

*Dr. Fernando Fontoura
Filósofo. Filósofo Clínico. Doutorando em Filosofia.
Porto Alegre/RS

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