"Era uma vez um menino que comeu uma biblioteca inteira. (...) Ele começou com Conrad e, então, passou para Shakespeare, que o alimentou por toda uma quinzena. Depois, dedicou-se a Kafka, Tolstói e Oscar Wilde. (...) Esses três grandes gênios sustentaram as tripas do menino em questão por um longo, gélido e branco inverno polonês"
"(...) O velho não era inteiramente deste mundo"
"(...) sucedera com Michael, que trocava sem pestanejar um bom prato de comida pelo consolo impalpável de um soneto (...) Era difícil explicar à Flora que os livros, ao contrário do que ela imaginava, guardavam em si todas as vozes e todas as vontades do mundo"
"(...) Minhas roseiras florescem no inverno porque leio para elas histórias dos trópicos. (...) Se vocês lessem bons livros, iriam saber que a ficção invade a vida real. (...) A vizinhança, que ouvia o velho declamar poemas para as flores achava-o meio desmiolado"
"(...) Queria cuidar do menino com muita ficção, a melhor ficção possível, pois ela era o único consolo à altura das vicissitudes da realidade"
"Eu tinha uns quinze anos naquela tarde lá no campo sob a figueira grande, em meio a um nada tão extenso e verde que terminava no infinito"
"Jósik e o avô viviam no tempo dos livros, dividindo suas tardes em páginas e capítulos, trocando comentários sobre Verchinin, Olga, Acab e Dom Quixote enquanto a água do chá alcançava o ponto de fervura. (...) E bebia daquelas páginas como se fossem o chá que esfriava na sua xícara"
"(...) assim que voltava à leitura, era sequestrado pela magia da prosa, deixando-se ficar ali por horas, sem jantar, a barriga roncando de fome, mas a alma saciada até que o fogo se apagasse na lareira"
"Aquele homem conhecia Shakespeare do começo ao fim, jantava com Tolstói e tomava chá com Henry James"
"(...) O avô deixara-lhe aquela grande dádiva, a imaginação. Ele era o neto do homem que criava rosas no inverno polonês, aquecendo-as com o sol dos trópicos da ficção"
*Letícia Wierzchowski in "O menino que comeu uma biblioteca". Ed. Bertrand Brasil. RJ. 2018.
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