“O inelutável não tem a
inumanidade do fatal, mas a seriedade severa da bondade.”
Emannuel Levinas
Dentro de mim mora um
Eu, um desconhecido fragmento do Outro lado do Ser. Se isso não bastasse,
dentro de mim a energia que existe é que move meu pensar, não a energia que faz
com que eu tenha todo conhecimento, pois ela não existe dentro do mundo, ou melhor,
fora de mim.
Um exemplo prático do cotidiano ilustra este exercício: dois dias
atrás, em atividade, andei dizendo breves palavras ao público, o evento exigia
esse ato de falar, meu discurso era simples, apresentar aos presentes o
trabalho que realizei e que ajudei a acontecer, desfiz-me de toda carga do dia
a dia e expus aos outros o trabalho de forma a apresentar o lado autoral aos
seus leitores.
Bem, a partir dali,
fechei um ponto que estava dentro, lá guardado do Eu, melhor, do que imagino
ser parte dele, mas que só se torna realizável no acontecimento.
Mais tarde voltei ao
meu Eu material, a redenção do corpo, o guardião do rosto, de cara viajei ao
texto, a Emmanuel Levinas, onde o rosto corta o sensível e desnuda o lado
adormecido da razão. Bati na minha própria porta do Ser, passei por cima das
nuances filosóficas, sentei, peguei dois livros que estão surrados, mas pelo
tempo de convívio comigo, entrei mundo adentro da questão mais difícil de ser
conclusiva, pois dela, o que dela se faz existir está para além do Eu, está do
lado de fora, a Ética.
Quando terminava algo,
no passado, sentia, logo depois, o vazio a se instalar no corpo, como as
pessoas se sentem quando acaba um grande evento, quando termina toda a energia
naquilo que une e inevitavelmente irá mais adiante ter o fechamento.
Aprendi muito com o fim
de tudo, aprendi mais com a solidão noturna, pois ali, depois de uma leitura,
de um vinho, um café, um filme, talvez, o descanso para acordar antes mesmo do
meu Eu. O corpo está neste imediato contato com a realidade, o Rosto, o de
Levinas, está presente no meu cotidiano.
Bem, daí vêm os afazeres para acordar
o resto, cada um com seu mantra, diria outra pessoa. É e não é, porque para
pensar “é preciso estar atento e forte” e enfrentar a única responsabilidade
suprema que existe ao que está dentro, ir para o lado de fora com suas armas,
desprovido do medo, ir à luta.
*Prof. Dr. Luis Antonio
Paim Gomes
Filósofo. Editor. Livre
Pensador.
Porto Alegre/RS
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