Pular para o conteúdo principal

Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*


"(...) o sentido obtuso parece desdobrar suas asas fora da cultura, do saber, da informação; analiticamente, tem algo de irrisório; porque leva ao infinito da linguagem, poderá parecer limitado à observação da razão analítica; pertence à classe dos trocadilhos, das pilhérias, das despesas inúteis; indiferente ás categorias morais ou estéticas, enquadra-se na categoria do carnaval"

"(...) proponho denominar este signo completo o sentido óbvio. Óbvio quer dizer: que vem à frente, e é exatamente o caso deste sentido, que vem ao meu encontro (...) Quanto ao outro sentido, aquele que é 'demais', que se apresenta como um suplemento que minha intelecção não consegue absorver bem, simultaneamente teimoso e fugidio, proponho chamá-lo sentido obtuso"

"Procedimento inovador, raro, sustentado contra uma prática majoritária (a da significação), o sentido obtuso surge, fatalmente, como um luxo, uma despesa sem retorno; esse luxo ainda não faz parte da política de hoje, mas já faz parte da política do amanhã"

"O poético é exatamente a capacidade simbólica de uma forma; esta capacidade só tem valor se permite à forma 'partir' para um grande número de direções e manifestar, assim, potencialmente, o infinito caminho do símbolo, de que nunca se pode fazer um significado último e que é, em suma, sempre o significante de um outro significante (razão pela qual o verdadeiro antônimo do poético não é o prosaico e sim o estereotipado)"

"(...) o sentido depende do nível em que o leitor se coloca"

"Mudar o nível de percepção: trata-se de um choque que abala o mundo classificado, o mundo nomeado (o mundo reconhecido) e, por conseguinte, libera uma verdadeira energia alucinatória. Na verdade, se a arte tivesse o único objetivo - fazer ver melhor - , seria apenas uma técnica de análise (...) mas, ao tentar produzir a outra coisa que está na coisa, subverte toda uma epistemologia: a arte é esse trabalho ilimitado que nos liberta de uma hierarquia corrente (...)"

"A voz humana é, na verdade, o espaço privilegiado (eidético) da diferença: espaço que escapa a todas as ciências, pois nenhuma ciência, (fisiologia, história, estética, psicanálise) é capaz de esgotar a voz: classifiquem, comentem historicamente, sociologicamente, esteticamente, tecnicamente a música, restará sempre algo, um suplemento, um lapso, um som dito que se designa a si próprio: a voz"

*Roland Barthes in "O Óbvio e o Obtuso". Ed. Nova Fronteira. RJ. 1990.      

Comentários

Visitas