Talvez esse imenso lugar
nativo ficasse inexplorado, não fora o movimento desconcertante a acessar as
inéditas regiões. Essa aptidão de estranhamento, tão desmerecida, aprecia
desnudar o espaço novo diante do olhar, interseção limiar com as demais teias discursivas.
Através do viés
desconsiderado é possível apreender e dialogar com a pluralidade transgressora
das fronteiras conhecidas. Ao fazer possível o impossível se pode vislumbrar a
ótica selvagem, um pouco antes de ser cooptada pelo saber instituído.
A cogitação sobre a
origem dessa matriz já contém, em si mesma, a multiplicidade de versões. As
lógicas da incerteza elaboram seus vocabulários brincando com os vestígios da
irrealidade. O devir instintivo ensaia relatividades ao querer mostrar paradoxos,
alternâncias, dialetos para se entender ou sentir que a perfeição de toda
imperfeição nem sempre vai ser explicável.
Sua opinião escolhe
desmerecer todo beco sem saída. Seu saber especulativo, recheado de incertezas,
promove reflexão, antecipa periferias. Ao tentar sufocar as crises do movimento
precursor, a pessoa se afasta de um si mesmo em vias de nascer. Como um logos
irracional, a essência de seu devir é a invisibilidade às lógicas do
entendimento. Reivindica a invenção discursiva capaz de não-pensar para
criar.
A busca por emancipação
pode ser antecedida por ensaios desestruturantes. O espaço literário e a
clínica apreciam a relação flexível da convicção com sua contestação. Com ela
pode acolher, transitar, compreender aprendendo os roteiros da estranha
geografia.
O exercício da
transcendência pode ter aptidão para deslocar o sujeito momentaneamente,
desarticulando o chão de onde a crise tenta resgatá-lo. Quem sabe seu esboço
consiga aproximar real e irreal ao seduzir o hábito com a surpresa. Um sujeito
ressuscitando na própria vida.
A trama subjuntiva se
oferece para desvendar perspectivas ao que se sabia único, acabado. O tempo da
dúvida, do receio, das tratativas com o absurdo das hipóteses, parece ser uma
dessas fontes da palavra mágica. Seu desvio dos rituais conhecidos sugere
caminhos para compreender o inacabamento, a contradição que alimenta a
vida.
*Hélio Strassburger in "A Palavra Fora de Si - Anotações de Filosofia Clínica e Linguagem". Ed. Multifoco/RJ. 2017.
**Filósofo Clínico não
filiado a Anfic. Professor, Escritor, Coordenador Geral da Casa da Filosofia Clínica. Autor de "Pérolas Imperfeitas - Apontamentos sobre as Lógicas do Improvável" pela Ed. Sulina/RS e "A Palavra Fora de Si - Anotações de Filosofia Clínica e Linguagem" pela Ed. Multifoco/RJ. 2017, dentre outras obras e atividades.
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