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Acredito em instrução rápida, mas não em educação rápida*



Entendo a educação como paidéia: como a progressiva formação cultural e espiritual do ser humano.

A educação, nesse sentido, é necessariamente lenta. Sem metas ambiciosas, sem etapas claras a ser verificadas por testes e provas. E é também diária: um pouquinho de cada vez, cotidianamente, é que se alimenta uma existência na humanidade.

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É preciso, por exemplo, educar na beleza: a beleza é um alimento indispensável do espírito. Como Dostoiévski sugere numa passagem de O Idiota, talvez a beleza venha a salvar o mundo - isto é, o próprio ser humano.

Mas, como toda a educação, a beleza é experimentada em degraus. Para falar nas artes: na literatura, nas artes plásticas e na música, é preciso subir devagar e constantemente. É preciso aprender a ler a prosa e o verso, a ver a pintura e a escultura, a ouvir e se entregar à música.

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E como podemos proporcionar essa educação a nós mesmos e aos nossos filhos?

Eu não acredito em fórmulas prontas. É preciso descobrir o que faz sentido para você e para a sua família.

Aqui em nossa casa, tenho uma rotina inquebrável com o João: toda noite, cerca de uma hora antes do horário de dormir, apagamos as luzes da sala e ficamos, sozinhos e juntos, ouvindo atentamente, do início ao fim, um CD de música clássica escolhido por ele. Hoje mesmo, um pouco mais cedo, ouvimos a Sinfonia no. 9 de Beethoven sob a batuta de Karajan, e o João ficou impressionado com o "rock" do final do último movimento...

Graças a essa nossa rotina, João já tem, aos nove anos, um pequeno repertório musical no coração ao qual pode recorrer em momentos de alegria ou de dor. E, last but not least, a música clássica é um poderoso relaxante para a hora do soninho...

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Enfim: a inevitável calmaria dos tempos de quarentena talvez seja perfeita para que comecemos a alimentar, todos os dias, o nosso coração e o nosso pensamento com a beleza indispensável para a nossa formação humana. E essa formação, que é a verdadeira educação, é uma tarefa - lenta e diária - para a vida inteira.

*Prof. Dr. Gustavo Bertoche
Filósofo. Escritor. Musicista. Filósofo Clínico.
Teresópolis/RJ

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