A Filosofia Clínica é uma
atividade eminentemente prática, terapêutica e filosófica. O fato de não adotar
ou elaborar um construto teórico que explique o homem, a natureza, o mundo ou
deus não a torna menos filosófica. O filósofo clínico lida com o mesmo homem
que os demais filósofos, só que com um fim diferente. E é na finalidade que a
filosofia clínica acaba por utilizar um método que explica cada homem particular
enquanto muitas outras abordagens filosóficas tratam do universal.
Enquanto muitos filósofos
excluem as particularidades em busca do que perpassa todos a fim de pensar o
homem em si, o filósofo clínico tem a noção do que seja o homem em si quando
recebe um em seu consultório, mas seu interesse é pelo conjunto de
particularidades que constituem aquele ser humano e o faz distinto dos demais.
Mas como toda filosofia posterior ao primeiro filósofo, Tales de Mileto, nasce
em diálogo com seus predecessores, um dos inspiradores do método da clínica
filosófica é Sócrates.
Sócrates é um dos pilares
do pensamento ocidental. No entanto, ele não deixou nem uma frase escrita.
Aliás, a desconfiança de seu maior discípulo, Platão, em relação à escrita
indica que seu mestre talvez não confiasse na sabedoria inscrita nas letras
mortas dos pergaminhos. Mas, a desconfiança não isentou esse mesmo discípulo de
nos deixar cientes de como seu mestre filosofava.
Os escritos de Platão foram expostos em forma de diálogos. Outros pensadores posteriores tentaram adotar essa forma de exposição das reflexões filosóficas, mas nenhum alcançou a maestria desse que inaugurou esse gênero. O principal personagem da maior parte desses diálogos foi o próprio Sócrates. No início pela fidelidade ao pensamento do próprio mestre sendo replicado, depois, por respeito a este, mas com a maturidade do próprio modo de pensar.
Sócrates andava por
Atenas dialogando com todos os que encontrava. As questões principais –
apresentadas nos diálogos platônicos – eram a justiça, o amor, o governo ideal,
o conhecimento etc. Para Sócrates, não se ensina algo; a resposta é acessada
por meio das perguntas, pois já está na mente de seus interlocutores. Esse
procedimento era chamado de maiêutica – a arte da parturiente, de dar a luz –
inspirado no ofício de sua mãe, parteira.
O filósofo clínico,
diferente de Sócrates ou talvez de Platão, não se pergunta se aquilo que busca
no partilhante veio de sua memória construída inteiramente nesta vida ou se é
fruto da pertença anterior em um Mundo das Ideias onde a alma anteriormente habitava.
Como uma vertente eminentemente prática, a Filosofia Clínica trabalha por meio
do diálogo e sua fonte é buscada no relato da história de vida de seu
partilhante. Aliás, se tal relato condiz com uma possível verdade objetiva,
isso sequer é cogitado. Se tal experiência é fruto do modo como o partilhante
vê e experiencia o mundo, é isso o que importa.
A clínica filosófica é
uma proposta socrática – pelo menos enquanto inspiração – na medida em que
utiliza os diversos modos de fazer com que o partilhante relate o que pensa e
como age segundo ele mesmo, sem intervenções que direcionem o relato
tendenciosamente, a fim de encontrar aquilo que deve ser trabalhado na clínica.
É no partilhante que está a história, as questões e as respostas.
O filósofo clínico é um aprendiz de seu partilhante. Ao mesmo tempo, o partilhante vê no filósofo clínico um espelho que reflete quem ele é e como age. Por isso, em muitos casos, o filósofo refletiu tão bem que o partilhante achou que foi ele mesmo quem resolveu suas questões sem precisar do terapeuta.
O filósofo clínico é um aprendiz de seu partilhante. Ao mesmo tempo, o partilhante vê no filósofo clínico um espelho que reflete quem ele é e como age. Por isso, em muitos casos, o filósofo refletiu tão bem que o partilhante achou que foi ele mesmo quem resolveu suas questões sem precisar do terapeuta.
*Prof. Dr. Miguel Angelo
Caruzo
Filósofo. Escritor.
Filósofo Clínico.
Teresópolis/RJ
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