"O poeta é aquele que ouve uma linguagem sem entendimento"
"(...) Essa fala é essencialmente errante, estando sempre fora de si mesma. Ela designa o de fora infinitamente distendido que substitui a intimidade da fala. Assemelha-se ao eco, quando o eco não diz apenas em voz alta o que é primeiramente murmurado mas confunde-se com a imensidade sussurrante (...)"
"Escrever jamais consiste em aperfeiçoar a linguagem corrente, em torná-la mais pura. Escrever somente começa quando escrever é abordar aquele ponto em que nada se revela, em que, no seio da dissimulação, falar ainda não é mais do que a sombra da fala, linguagem que ainda não é mais do que a sua imagem, linguagem imaginária e linguagem do imaginário, aquela que ninguém fala, murmúrio do incessante e do interminável a que é preciso impor silêncio, se se quiser, enfim, que se faça ouvir"
"(...) o poeta é aquele que ouviu essa fala, que se fez dela o intérprete, o mediador, que lhe impôs o silêncio pronunciando-a"
"(...) aquele que escreve é igualmente aquele que 'ouviu' o interminável e o incessante"
"O infinito da obra, numa tal perspectiva, é tão só o infinito do próprio espírito"
"O escritor escreve um livro mas o livro ainda não é a obra, a obra só é obra quando através dela se pronuncia, na violência de um começo que lhe é próprio, a palavra ser, evento que se concretiza quando a obra é a intimidade de alguém que a escreve e de alguém que a lê"
"Escrever é o interminável, o incessante (...)"
"Escrever é fazer-se eco do que não pode parar de falar - e, por causa disso, para vir a ser o seu eco, devo de uma certa maneira impor-lhe silêncio"
"(...) reconhecer na palavra a aptidão para exprimir as coisas ausentes"
"(...) convida-nos a não ler essas palavras na tranquilidade de seu sentido manifesto"
*Maurice Blanchot in "O Espaço Literário". Ed. Rocco. RJ. 2011.
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